Faço sulcos na realidade e nas valas deito minhas fantasias. Observo-as tomarem forma e cor, mesmo que muitas vezes não desgrudem do irreal, apesar de bem juntas à realidade. Sonho é realidade provisória que pra mim é pra sempre, preciso lembrá-los pra ainda ser eu. Quem vive só do concreto quando se perde do corpo vira nada. E quero ir embora ainda assim sendo. Não me interessa que pra ser lembrado ou esquecido, amado ou odiado. Não me interessa que odiando em mim os defeitos e fragilidades com o dedo apontando a fraqueza do outro. Não importa que cheio de defeitos, e sendo, portanto, humano.
Só não vou ser burro de fugir do clichê e fugir da idéia. Negar a dor, assim negando a verdade. Rejeitar a franqueza alheia pra evitar novos sulcos – agora em mim. Não vou interromper a explosão pra não ter de contabilizar os feridos e limpar as ruas que nunca deixam de ser imundas. Não vou abandonar a crítica pra não arcar com solidão. Quem diz o que quer, sente o que não quer. Mas não deixa de sentir.
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