13/03/2012


Quando triste desenho nas margens dos cadernos meninas sorridentes, bocas desfiguradas, olhos doentios, crânios desproporcionais ao lado de zumbis sedentos, de olhos vidrados, crânios partidos, mandíbulas esticadas. Os gritos se encontram nos meus ouvidos, o desespero nas minhas mãos, a imaginação me tritura a sanidade. Uma menina acuada berra e chora dentro de mim.
No quartinho dela minúsculo sustentado no vazio das minhas entranhas correm gotas escarlate de relógios derretidos, pregos dançam incessantes abrindo novos caminhos, enquanto eu, a sacudir todo corpo, sinto a menina pular corda e rir alto, cada vez mais alto do eco dos meus gritos de pavor todos engolidos no meio de qualquer uma das aulas. Minhas mãos pressionam o estômago, mas não é lá, e nem em qualquer outro pedaço palpável órgão tecido célula, ela nem eu sabemos onde é a sua casinha sem porta em algum ponto de encontro de todas as minhas viagens, meu derradeiro paradeiro.
A noite quando tento dormir, ela grita bem alto fica, fica, fica comigo não me deixe aqui onde não sei quem sou nem o que quero nem pra onde vou. Eu digo calma, querida, você não é a única. E nesses momentos chego a criar até compaixão, certo reconhecimento, empatia, com a tristeza da menininha que é minha e eu sou dela, que sem ela pra culpar pelas minhas insônias, se não é ela pra ser a minha loucura toda morando em uma casinha onde os relógios derretem, o que ia ser de mim? Também tô com medo, lindinha, deixa eu entrar no teu quarto? Deixa, deixa eu me encolher na tua caminha e pedir pra um Deus lá em cima que ninguém conhece que nem você, que ninguém sabe qual é o rosto, pra um dia eu ser eterna e plenamente feliz? Viu, sou burra, tola, romântica porque só assim me sinto por cima dessa merda toda. A igualdade me detesta, ou talvez seja o contrário.
E no outro dia saiba que ela grita, cada vez mais alto, implorando um socorro que nunca chega porque lá dentro do meu peito nada entra nada sai só a menininha que nasceu lá, nem eu nem ela sabemos porque ou como, que grita e esperneia em busca da salvação, assim como eu e você.

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