
Não expresso drama nenhum, mas no fundo quero sumir, achar antes um jeito bacana de dizer assim, bem séria, que as coisas todas estão melhores: o mundo as pessoas as empresas, tudo lindamente sem egoísmos se estruturando ao redor das massas pensantes, gente tão genial essas máquinas de fazer dinheiro e alegrias. Você olhava sóbrio o vácuo, a parede da sala minúscula; você enclausurado dizendo: Será que um dia vão nos aceitar mesmo assim? Acorda, querido, as pessoas só aceitam, convivem, fazem filhos, compram apartamentos espaçosos de vistas privilegiadas sem esgoto algum por perto com seus iguais. Vai, não faz essa cara de que essa limpeza toda aparente te atrai mais que esse melodrama, essas frases sussurradas assim teus-livros-tua-cultura-não-preenchem-o-teu-vazio. Por favor, não fica com raiva dessa vez, não atinge o primeiro eletrodoméstico que ver com a cadeira branca cheia de furos no encosto só pra me enlouquecer, deixa que essa calmaria nos engole bem antes, não diz assim "fica aqui sozinha com teus dramas, ídolos mortos, teus contos podres e pobres" porque eu juro que não volto atrás. Não sai correndo por aí de sunga colada gritando quem vai nos salvar?, deixa as ideias improdutivas irem e virem, espera aparecer qualquer coisa que sirva pra devolver pra gente a crença de novo, no mundo e nas coisas todas. Não chora assim, espera vir uma esperança que nos resgate de morrermos assim tão murchos e fatigados sem perguntar mais pra ninguém porque foi que tudo ficou tão escuro e todo mundo parece tão burro e ridículo em fantasias de ano inteiro. Larga as minhas pernas, eu preciso ir embora entrar em casa aquecer o café deitar a poltrona ler amenidades e tragédias super-focadas pela mídia que dramatiza sem propor soluções igualzinha a nós. Vai dormir tomar um chá engolir essa semana inteira em goles pequenos e doloridos de trabalhos mal recompensados, procura a companhia de um amigo desses que te chame pra ver TV e ouvir as notícias e sorrir de dentes tortos mais uma tarde vencida, mais um dia, mais uma manhã onde tudo parece perfeitamente posto em espera pra quando se recuperar a lucidez.