15/10/2011

Um mandamento e mil questionamentos

Em desejo não se manda, veja que tolice, “não cobices a mulher do próximo”, mas quem é que comanda as próprias cobiças? Saibas que se fosse assim seríamos todos muito puros, pode ter certeza, todos muito certos. Padres não deixariam de serem padres pra casar com mulheres, nenhum padre exploraria de crianças como se sabe que às vezes acontece. Adolescente não teria filho, olha que maravilha, não existiriam pedófilos ou transgressores e muitas leis nem existiram. Mas, infelizmente – ou talvez não, porque perceba que sem graça seríamos todos – somos impuros e imorais e mesmo assim julgamos os erros alheios que são cometidos graças à suas mentes nem sempre limpas – ou talvez nunca. Apontamos com nossos dedos tortos as caras dos criminosos, mas será que com um pouco mais de coragem não seríamos nós atrás das grades? A verdade é que os medrosos não cometem crimes e, de fichas limpas, riem-se da desgraça dos que nasceram sem pudor, quando estes se saem mal transgredindo leis. Soei um tanto sensacionalista, mas foi só por pensar que todos nós temos uma tendência ao crime. E no quanto nos descriminamos e reprimimos por todos os desejos que são considerados sujos, por nossas práticas taxadas ilícitas, por nossas vergonhas, pelo nosso caráter que julgamos inquestionável, mas será? Ah, o quanto julgamos os drogados, bêbados, péssimos pais de famílias, mas quem não teve ou tem, lá no fundo, um desejo de também decepcionar essa sociedade que nos exige e nos arranca nossas conquistas como se faz com doce em mão de criança? Sociedade que nos tira e nunca devolve pais, mães, irmãos, que entraram e não saem mais da morte por um tiro que estava perdido, pela arma na mão da pessoa errada, pela polícia que foi feita pra proteger e tantas vezes machuca. Na verdade, todos estamos mergulhados nessa lama, uns mais, outros menos. Todos compartilhamos da indignação que pouco se difere do ódio de ser um fator a mais, só mais uma fruta nesse cesto de maçãs podres. Desculpem-me os religiosos, perdoe-me Moisés, mas é um grande erro esse de reprimir nossos desejos, além de ficarmos o tempo todo sufocando nossa má conduta pra ser alguém melhor. Pelo menos que possamos cobiçar à vontade, querer, desejar, mesmo que escondido, mesmo sem confessar, as coisas alheias e as coisas erradas desse mundo.

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