As pessoas que mais idealizei me derrubaram do cavalo, como boa gente de carne e osso
talvez eu não estivesse em cima do cavalo, na verdade; tivesse até vergonha de me sobrepor a um animal e às pessoas da rua.
eu pensei que algumas coisas que aprendi, como que escrever vem depois de uma insatisfação e um descompasso com o mundo, isso eu aprendi depois de outro jeito, mais racional.
Uma mulher teve a paciência de me ensinar tudo isso que já sabia, mas de modo que pudesse me apropriar.
Agora leio poesia e sinto um desconforto, o encantamento surge de vagarinho e raramente. Sei que as palavras podem cansar como as pessoas e seus assuntos de todo dia.
Essa mulher que falei me disse de padrões, que podem parecer sempre iguais aos olhos cansados
Mas sempre tem uma sutileza, um cabelo branco a mais, um brilho no olho, um pisão no pé
alguma coisa que não é a mesma
Um tom de voz que pode ser que ninguém perceba
e decidi treinar meu ouvido, embora ninguém me diga exatamente como,
para esse detalhe que nos faz eternamente outros, até quando precisamos alfinetar o outro com a mesma pequena farpa de ontem.
Me disseram que ser ouvida poderia me ensinar a ouvir. Que me ouvir também daria na mesma. Que me ouvir e ser ouvida eram duas coisas juntas,
inseparáveis. E aquele que suporta os silêncios daquele que o escuta, com a respiração suspensa, esperando o que seu último desnudar produziu no outro
Esse talvez um dia possa ouvir. Essa última parte eu disse.
Me perdi entre querer um método e me entregar pra um processo que nem sempre entendia, mas sentia.
A palavra "perca" ta na minha pele, com esse sentido de cima.
Tava pensando que a associação livre veio pra mim primeiro assim, sozinha mas com a ânsia de mostrar pra alguém o que eu pensava.
Desculpa a minha mania de comparar tudo com terapia e escrita.
Acho que tenho que perder a minha mania de subestimar pessoas e livros. Às vezes acho que eles não vão me trazer nada de novo
Que a nossa cultura serializou demais os pensamentos
Mas ainda mantenho um interesse em mim, que eu ainda possa falar algo e sentir novidades.
Eu gostei muito de me sentir mais gente, parecida com os outros. Me deu uma dimensão do tanto de gente que escreve, lê, gosta de conhecer de gente
gosta de ver a lua e sentir um cheiro gostoso da noite
procura práticas místicas para se sentir parte
Tudo isso eu fui e encontrei gente, parecida comigo.
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Isso quebrou uma parte minha que queria ser separada, se destacar
Agora acho engraçado querer ser o melhor da turma
E meio triste quem consegue e realmente acredita que aquele parâmetro é a melhor medida.
Nem mesmo preciso me destacar na escrita, como eu acreditava que seria
Ou ter a melhor memória, que às vezes me deixa puta
ou ser o melhor casal, o mais apaixonado que eu conhecia
Tudo isso é tão capitalista e solitário.
Querer guardar o amor pra si, falaram, e eu realmente acreditei
Que o amor tava escasso e quando acontece é melhor que ninguém veja
Quem sabe?
É que o amor, pelo que eu conheci
às vezes não se contenta com as paredes dos quartos
com as camas estreitas e molhadas
e extravasa no sorriso de qualquer volta na quadra, ou ida ao trabalho
afinal o amor não alimenta por si só, ele se alimenta também dessas idas e vindas
e ganhos externos.
Eu sei que tem muita gente falando disso.
Mas eu vim gente, aprendi a amar, a escrever
Li coisas que me enfastiaram e me revolveram inteira
Quis ler e ser lida
de todos os jeitos, com as mãos e a boca
quis suportar ver sempre os mesmos olhos com o meu livro na mão
e os bocejos que podem surgir.
Quis ser humana assim mesmo,
e falaria pro carinha com o livro na mão que tenho TOC
que discutir relações é um exercício dos que eu mais gosto
que se vulnerabilizar e conectar é o que mais fez sentido até agora aqui.
Que eu falo muito de mudança e morte porque não sei lidar com essas coisas,
como todo pobre humano tentando agarrar o que pode.
Mas que apesar das ventanias da vida, que parecem revolver até as mais fortes raízes,
há sim coisas que não mudam, como uma amiga que é a mais engraçada pra mim desde 2000 e bolinhas.
Que talvez eu sempre goste de ler, escrever, mas que isso talvez vá mudando de sentido.
Eu odeio chinelo de velho se arrastando pela casa, e as vezes me pego arrastando chinelos e com os ombros caídos
e isso diz muito do humano também
Daquilo que a gente odeia porque está em nós até os ossos
e talvez causasse bocejos a quem lesse o livro da nossa vida.
Sinto que poderia cortar muitas coisas do que escrevi, mas escrevo pra mim e nunca me cortei
só esperei silenciosa que aquela fase passasse
Ou às vezes berrando tanto que até os espíritos estranhavam.
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Agora me dei conta que escrever me faz sentir mulher, que podia escrever me sentindo adulta desde sempre
E às vezes com meu corpo no mundo me sinto pequena e encolhida.
Mas não desisto e não me deixo desistir desse contato que me endurece e amolece.
A resposta é o movimento e o contato,
é uma resposta provisória, desse momento da vida
Dessa pessoa que teve muito medo de gente
que só conseguia sorrir forçado em algumas situações, embora quisesse tanto gargalhar
e abraçar por dentro.
o contato, já aviso, implica em ouvir ronco, chinelo arrastando, covinha no rosto, sujeira no dente,
olho marejado, emoção escancarada, e também escondida.
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A resposta é o contato.
Agora mesmo o anseio,
conversa que me deixe sorrindo,
contato que me arranque as respostas outras.