tag:blogger.com,1999:blog-1575344361105670102024-03-13T11:30:39.247-07:00Morangos de MaioQueria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi. - C.F.AJúlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.comBlogger168125tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-64652709890481289482021-12-20T18:27:00.001-08:002021-12-20T18:27:44.674-08:00Associações livres depois que aprendi o que isso significa<p> As pessoas que mais idealizei me derrubaram do cavalo, como boa gente de carne e osso</p><p>talvez eu não estivesse em cima do cavalo, na verdade; tivesse até vergonha de me sobrepor a um animal e às pessoas da rua.</p><p>eu pensei que algumas coisas que aprendi, como que escrever vem depois de uma insatisfação e um descompasso com o mundo, isso eu aprendi depois de outro jeito, mais racional.</p><p>Uma mulher teve a paciência de me ensinar tudo isso que já sabia, mas de modo que pudesse me apropriar.</p><p>Agora leio poesia e sinto um desconforto, o encantamento surge de vagarinho e raramente. Sei que as palavras podem cansar como as pessoas e seus assuntos de todo dia.</p><p>Essa mulher que falei me disse de padrões, que podem parecer sempre iguais aos olhos cansados</p><p>Mas sempre tem uma sutileza, um cabelo branco a mais, um brilho no olho, um pisão no pé</p><p>alguma coisa que não é a mesma </p><p>Um tom de voz que pode ser que ninguém perceba</p><p>e decidi treinar meu ouvido, embora ninguém me diga exatamente como,</p><p>para esse detalhe que nos faz eternamente outros, até quando precisamos alfinetar o outro com a mesma pequena farpa de ontem.</p><p>Me disseram que ser ouvida poderia me ensinar a ouvir. Que me ouvir também daria na mesma. Que me ouvir e ser ouvida eram duas coisas juntas, </p><p>inseparáveis. E aquele que suporta os silêncios daquele que o escuta, com a respiração suspensa, esperando o que seu último desnudar produziu no outro</p><p>Esse talvez um dia possa ouvir. Essa última parte eu disse.</p><p>Me perdi entre querer um método e me entregar pra um processo que nem sempre entendia, mas sentia.</p><p>A palavra "perca" ta na minha pele, com esse sentido de cima. </p><p>Tava pensando que a associação livre veio pra mim primeiro assim, sozinha mas com a ânsia de mostrar pra alguém o que eu pensava.</p><p>Desculpa a minha mania de comparar tudo com terapia e escrita. </p><p>Acho que tenho que perder a minha mania de subestimar pessoas e livros. Às vezes acho que eles não vão me trazer nada de novo</p><p>Que a nossa cultura serializou demais os pensamentos</p><p>Mas ainda mantenho um interesse em mim, que eu ainda possa falar algo e sentir novidades.</p><p>Eu gostei muito de me sentir mais gente, parecida com os outros. Me deu uma dimensão do tanto de gente que escreve, lê, gosta de conhecer de gente </p><p>gosta de ver a lua e sentir um cheiro gostoso da noite</p><p>procura práticas místicas para se sentir parte</p><p>Tudo isso eu fui e encontrei gente, parecida comigo.</p><p>#</p><p>Isso quebrou uma parte minha que queria ser separada, se destacar</p><p>Agora acho engraçado querer ser o melhor da turma</p><p>E meio triste quem consegue e realmente acredita que aquele parâmetro é a melhor medida.</p><p>Nem mesmo preciso me destacar na escrita, como eu acreditava que seria</p><p>Ou ter a melhor memória, que às vezes me deixa puta</p><p>ou ser o melhor casal, o mais apaixonado que eu conhecia</p><p>Tudo isso é tão capitalista e solitário.</p><p>Querer guardar o amor pra si, falaram, e eu realmente acreditei</p><p>Que o amor tava escasso e quando acontece é melhor que ninguém veja</p><p>Quem sabe?</p><p>É que o amor, pelo que eu conheci</p><p>às vezes não se contenta com as paredes dos quartos</p><p>com as camas estreitas e molhadas</p><p>e extravasa no sorriso de qualquer volta na quadra, ou ida ao trabalho</p><p>afinal o amor não alimenta por si só, ele se alimenta também dessas idas e vindas</p><p>e ganhos externos.</p><p>Eu sei que tem muita gente falando disso.</p><p>Mas eu vim gente, aprendi a amar, a escrever</p><p>Li coisas que me enfastiaram e me revolveram inteira</p><p>Quis ler e ser lida</p><p>de todos os jeitos, com as mãos e a boca</p><p>quis suportar ver sempre os mesmos olhos com o meu livro na mão</p><p>e os bocejos que podem surgir.</p><p>Quis ser humana assim mesmo,</p><p>e falaria pro carinha com o livro na mão que tenho TOC </p><p>que discutir relações é um exercício dos que eu mais gosto</p><p>que se vulnerabilizar e conectar é o que mais fez sentido até agora aqui.</p><p>Que eu falo muito de mudança e morte porque não sei lidar com essas coisas,</p><p>como todo pobre humano tentando agarrar o que pode.</p><p>Mas que apesar das ventanias da vida, que parecem revolver até as mais fortes raízes,</p><p>há sim coisas que não mudam, como uma amiga que é a mais engraçada pra mim desde 2000 e bolinhas.</p><p>Que talvez eu sempre goste de ler, escrever, mas que isso talvez vá mudando de sentido.</p><p>Eu odeio chinelo de velho se arrastando pela casa, e as vezes me pego arrastando chinelos e com os ombros caídos</p><p>e isso diz muito do humano também</p><p>Daquilo que a gente odeia porque está em nós até os ossos</p><p>e talvez causasse bocejos a quem lesse o livro da nossa vida.</p><p>Sinto que poderia cortar muitas coisas do que escrevi, mas escrevo pra mim e nunca me cortei</p><p>só esperei silenciosa que aquela fase passasse</p><p>Ou às vezes berrando tanto que até os espíritos estranhavam.</p><p>#</p><p>Agora me dei conta que escrever me faz sentir mulher, que podia escrever me sentindo adulta desde sempre</p><p>E às vezes com meu corpo no mundo me sinto pequena e encolhida.</p><p>Mas não desisto e não me deixo desistir desse contato que me endurece e amolece.</p><p>A resposta é o movimento e o contato,</p><p>é uma resposta provisória, desse momento da vida</p><p>Dessa pessoa que teve muito medo de gente</p><p>que só conseguia sorrir forçado em algumas situações, embora quisesse tanto gargalhar</p><p>e abraçar por dentro.</p><p>o contato, já aviso, implica em ouvir ronco, chinelo arrastando, covinha no rosto, sujeira no dente,</p><p>olho marejado, emoção escancarada, e também escondida.</p><p>#</p><p>A resposta é o contato.</p><p>Agora mesmo o anseio,</p><p>conversa que me deixe sorrindo,</p><p>contato que me arranque as respostas outras.</p>Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-37964003087067731532013-07-13T21:39:00.000-07:002013-07-13T21:39:31.327-07:00Teus olhos são desses segredos<br />
que a razão da gente não dá conta de guardar<br />
e têm rios que bicho humano nenhum se atreve adentrar<br />
corredeiras infinitas desaguando no vazio<br />
tudo que os ibéricos temiam navegar<br />
cabe no teu olhar<br />
Enevoado por tempestades que tu jurava pouco<br />
olhos de animal perdido<br />
que já aprendeu a caçar<br />
com dentes muito brancos<br />
aptos a tirar pedaços<br />
e nunca mais voltar pra reclamar<br />
a carcaça do que ficou.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-54393640906238603402013-05-30T16:50:00.001-07:002013-06-02T11:46:58.985-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia-zLrtiGYitn0JKDHiC9yhryx0r_MQCLyyAbZLuJnrocb_kKs62b5WMM9Q4WNT9hl4a44oNzbp0FlBvYmiAgBEuTvIp4-KOt5KPiuzPA7r-9YRPtSez8gd-zVyD84dV0aVm4dvs3cZ4qc/s1600/agonia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia-zLrtiGYitn0JKDHiC9yhryx0r_MQCLyyAbZLuJnrocb_kKs62b5WMM9Q4WNT9hl4a44oNzbp0FlBvYmiAgBEuTvIp4-KOt5KPiuzPA7r-9YRPtSez8gd-zVyD84dV0aVm4dvs3cZ4qc/s320/agonia.jpg" width="254" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="pt">Nunca pronunciava-se sobre aqueles que a esquecerem e cuspiram nas faces
palavras indóceis ou, pior de tudo, que, sem aviso prévio - fora esse
pressentimento agoniante que a assolou por dias-, disseram até logo para nunca
mais voltar. E jurou nunca escrever sobre ele, e esquecê-lo entre memórias em
sépia, ou esqueceu de jurar justamente para não ter de policiar mais uma área
do pensamento, que esse seu jeito de apagá-lo a cada minuto é nada além de
mantê-lo, definitivo, em infindáveis noites de insonia rindo convencido de
tê-la para si ainda por muito anos. Então o odeia pelo tempo necessário para
sentir-se tola e jurar esquecê-lo, para rememorar-se em seu esquecimento febril
de seus mínimos gestos e trejeitos. E diz assim que ele a levou
uma crença abstrata que lhe nutria os dias de que tudo no fim dava certo, e
passou a querê-lo já sem esperanças. E fica assim um cheiro de flores mortas
sangue seco insetos esmagados entre os lençóis, livros, cadernos e alimentos
como se tudo no quarto estivesse lenta e compassivamente destroçando-se. É que
há tanto tempo o peito pequeno já não arfa com romantismos antigos nem os
lábios finos proferem versos de Florbela ou Neruda que anda entristecida
procurando explicações religiosas budismos espíritos e débitos antigos
imemoráveis para não abandonar a si, mesmo que no fundo desconfie, graças a
essas evidências mortes súbitas coletivas e abandonos inexplicáveis que Deus
tenha morrido há alguns séculos em algum buraco da africa setentrional. E com a
calma aparente de sempre disse-me que está presa as suas palavras ídolos
literatura, e que a liberdade deve ser algo como vagar sem ninguém, sem nunca
ter amado ou conhecido a dor, ou talvez tomado pela doença do esquecimento, sem
buscar resposta alguma. Que as certezas nos apreendem como os feitos cotidianos
pra fugir de si. E disse tantas outras coisas já tão velhas como só sei
escrever sobre mim e quando morrer vou existir, morrer de amor é a derradeira
libertação.<o:p></o:p></span></div>
Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-41472525389413991352013-04-21T17:00:00.002-07:002013-06-05T17:51:51.753-07:00Um dia Gullar falou que a gente precisa se surpreender pra escrever: enquanto os dias parecerem iguais e as pessoas as mesmas de um passado não tão recente, e as novidades parecerem pertencer aos museus de Cazuza, nada posso fazer senão ler jornais ver novelas e fugir todo dia de mim com as banalidades e emburrecer pra não perder a sanidade. e continuo cumprindo comigo mesma um velho acordo de não mentir para com o que sinto, e que esse vazio deve ser só um jeito de limpar o sótão pra que alguma coisa bruta e surpreendente surja no quintal. E quando quiser faço como Clarice disse e escrevo pra ninguém, que quando escrevo pra ti é porque não sou escritora igual Clarice, mas sei que você nunca vai ler. Ando meio cansada da vírgula, da pausa pra uma nova ideia compensadora, de exigir compreensão. To meio cansada e preciso aprender coisas pra nunca mais usar, subtrair essa profundidade dos dias que sinto como brisa velha, cheiro entre dois casacos guardados do ultimo inverno, um sentimento mofado que mingua no dia-a-dia. Sinto que os sentidos vão se perdendo e tenho uma urgência em expressar, e engolir tudo de uma vez pra não me vomitar em palavra. quem sabe isso me faça voltar a escrever.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-173104222027200332013-04-21T16:48:00.001-07:002013-04-21T16:48:21.941-07:00os despertadores apitam porque é agora o momento em que o tempo não passa e nunca foi verdadeiro, onde não há passado e o mundo enlouqueceu remoendo as mesmas mentiras bem escritas e estamos eu e uma velha abraçada no crânio rachado do marido há muito morto. cercamos uma mesa de cartas todas postas e estamos loucas, ela com seu cabelo espetado e sujo e o homem que nunca envelheceu, e supomo-nos no antro da existência, nesse momento em que somos caquéticas, ela de corpo e eu com a alma posta em espera vendo os ponteiros que não se movem. tenho medo, digo a ela, mas o medo já foi, e todas essas coisas que antes dizia e cabiam em linhas escassas hoje não sei dizer, ao que ela assente e não entende, como todos os psicanalistas do mundo e finge que sim, tudo bem, nunca vou dizer tudo. e ela chora e revira-se na cadeira e murmura que dez amores frustrados não doem tanto quando um nunca realizado, assim pela metade do mês da história da vida. E queria lhe dizer qualquer coisa reconfortante e inovadora que lhe iluminasse a vista mas tudo a velha já sabe, inclusive que já passou o ponto, o momento, o encanto e seguimos sentadas, as duas velhas tremulas e de estaticos olhares, esperando que o sol venha e o tempo passe, e queremos partir desesperadamente desse momento em que vivemos tão pequenas e caquéticas, tão loucas e paradas.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-50009181308115717862012-08-19T13:17:00.000-07:002012-08-19T13:43:35.266-07:00“Mergulhar em alívio no buraco negro meu de bicho vil, no meu pedantismo de animal aculturado. Para sempre: ir.” <br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="pt">Essa é minha vontade: te ligar todas as noites, o travesseiro empapado,
o suor e as lágrimas mistos em branquíssimos lençóis, e ouvir a mesma caixa
postal na qual um recado qualquer poderia ser deixado e jamais respondido. Só
pra assim dar um jeito de não desistir de ti, numa caixa qualquer, uma caixa
escura, minúscula, triste, a qual felizmente você não pertence. Desculpe, estou
me dispersando, mas nada além dessa ligação insistente e muda de
não-desistência e chorosa de todas as noites faz sentido, tua morte não faz
sentido, minha dor não faz sentido, tua falta é um buraco escavado na minha
face cada dia mais magra, face essa sem sentido que carrega em seus vincos o
dissabor da espera. Por quem sabe que não vem, não atende, não responde, não
liga. E mais uma vez minha tristeza mora nas concessivas e malditas palavras:
as tuas que não vem, as minhas que desgastam-se por papéis, entre cadernos,
copos d'água e remédios pra dormir. Perdidas, nesse processo entre meu peito
minha mente minhas folhas, estas saem emocionadas, cortantes, e ainda assim
palavras: filtradas. E no fundo tem essa vontade, a de te ligar e ouvir do
outro lado da linha você dizer assim fica calma menina e sonha, sonha que o
medo passa, sonha e esconde a máscara, só dessa vez. Meu choro é por ti, por
mim, pelo mundo latente atrás das janelas que é vivo e real de mais, por tudo
isso que não toco e não cheiro e escorre límpido em minhas lágrimas. Choro a
morte e a loucura, e nada disso me pertence. Então te pergunto, em meu sonho,
entre soluços entrecortados, o que é que eu faço pra seguir acreditando? Ao que
você responde, com a serenidade de sempre: viva.</span></div>
Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-54082539250977743542012-08-07T17:29:00.000-07:002012-08-07T17:29:20.719-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCewZmxGl-PZ1q074MGLlAmUIH6u2trGKSc2ijrenJSbKfzg0LJc5v2Z91YqmcAs3Vrfj9Fa4KlynmbAIVsW1JpSBdfr7HlL-UylvAdqIjK_aTxXD5nlYrkEIRwTYsxF4TXcNEtoNeuGlH/s1600/TTTTTTTTTT.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCewZmxGl-PZ1q074MGLlAmUIH6u2trGKSc2ijrenJSbKfzg0LJc5v2Z91YqmcAs3Vrfj9Fa4KlynmbAIVsW1JpSBdfr7HlL-UylvAdqIjK_aTxXD5nlYrkEIRwTYsxF4TXcNEtoNeuGlH/s320/TTTTTTTTTT.jpg" width="320" /></a></div>
Sei que você precisa se sentir criança, querendo alguém como criança quer doce, mas de forma trilhões de vezes mais dramática. Mas eu preciso de você inteira e não partida em mil cacos, esse quebra-cabeça ambulante que anda pelas ruas, sorrindo como se não odiasse atores fora de cena. E às vezes me dá quase que um instinto paternal, de pegar você nos braços e abraçar e deixar que chore e finalmente encaixe em seu próprio corpo sem ser sempre algo à mais. Ou um ódio descontrolado, junto a essa vontade de sacudir teus braços e gritar mil xingamentos que te acordem, enfim, desse sonho melodramático, onde a heroína esbofeteia todos na cara com sua delicadeza excessivamente triste. Simplesmente te peço, guria, que encontre, entre teu conformismo e imediatismo e esse monte de sonhos, qualquer espaço - por menor que seja -, na tua vida, pra que eu possa te dizer outras verdades não tão duras. Não enrubesça quando eu disser que, por trás da máscara da armadura e de tudo, teus olhos brigam com a luz da lua e deles emerge um substituto às delicadezas. Leio neles o gosto por Neruda, Cazuza e Cecília, um humor mórbido e um riso enferrujado de confiança cedida e quebrada. E peço, então, que não vá embora antes de ser de novo a criança não sem mistério que te habita enquanto escreve, e que não morre por tu ser poeta. Te peço que permita a essa criança ter o olhar também exposto em tuas grandes janelas negras, onde ressoam sonetos esquecidos lidos às quatro da manhã por uma velha que senta, espera e borda o anunciar de cada dia. E que essa velhice e infância que debatem-se em teu frágil corpo percam, se possível, pra vida que te espera lá fora.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-62158371369384562692012-07-18T15:39:00.001-07:002012-07-18T17:59:41.347-07:00Entre o angustiante e o insano<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5tZs4fJT4NKVdNwRyQnjdtogzGBkoTJkXQktUrj0GgDk-akRJOzHncdwuqWArTyOqjeiDRc2ow4Syb2yFey1eO-4w5xdHl_-_yaxMnaFoFa-8wjd5gjrqwPW-RsWnsrrsRTeuzCh4OorN/s1600/Captura+de+tela+inteira+18072012+215713.bmp.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5tZs4fJT4NKVdNwRyQnjdtogzGBkoTJkXQktUrj0GgDk-akRJOzHncdwuqWArTyOqjeiDRc2ow4Syb2yFey1eO-4w5xdHl_-_yaxMnaFoFa-8wjd5gjrqwPW-RsWnsrrsRTeuzCh4OorN/s320/Captura+de+tela+inteira+18072012+215713.bmp.jpg" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
Tenho medo é da inspiração tardia, da tristeza improdutiva e do amor que não sinto. A angústia, semelhante a essas gentes cuja presença se acostume e tolera, contudo sempre a desejar calmamente que dê uma trégua, acomoda-se na poltrona e exige chá com uma boa reflexão que a procrie. <span style="background-color: white;">Tenho medo mesmo é dessa paisagem interna que me absorve e, sempre que acordo, um tanto da vida passou. A companheira sorri e diz: eu não passo, eu fico. Tenho uma secura na boca, reviramento no estômago, os olhos tardios e parados, meio mortos, postos na discrepância, no inóspito e desinteressante. A velhice que os habita parece sempre pronunciar: tudo bem, podem ir, eu espero. Meus lábios movem-se num monólogo: tenho mesmo os olhos fechados, as pálpebras enegrecidas, as mãos paradas e frias postas sobre o colo, algodões a impedir que se desfaçam os pedaços. Esse é o retrato da minha alma. </span><span style="background-color: white;">A angústia, em risadas convulsivas, satisfaz-se como num banquete, onde os corvos tocam clarineta enquanto o velório prossegue. Minha escrita de mau gosto satisfaz-me - e a ela também -, então tudo vai bem. Respiro, e percebo quase com alegria que ainda o faço, enquanto minha imaginação volta para seu quartinho escuro, nos fundos de uma insana casa que curiosamente nunca explode. </span><span style="background-color: white;">Os lampejos ocorrem-me e embebedo-me neles mesmo que custem horas de sono e psicanálise. E, além disso, reprimir os próprios demônios deve ser mesmo muito triste.</span>Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-64608705443433422312012-07-08T13:19:00.002-07:002012-07-08T14:14:25.537-07:00Outros Tempos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfho2mBisVj6nZGpY9LyutZa0V3Q3lvNqftSpQCYQRltz2qEOItl7YX98Nh7UWSLWcS_h52rWdBddIwkJ_EeIEZGjdi0oTEn3VFbzOgYLHe8r70JZ0qj_F35OIvCYdgtA-kGOFGZ4Ik6lV/s1600/tumblr_m2gdx1zsNH1r4bihwo1_1280_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfho2mBisVj6nZGpY9LyutZa0V3Q3lvNqftSpQCYQRltz2qEOItl7YX98Nh7UWSLWcS_h52rWdBddIwkJ_EeIEZGjdi0oTEn3VFbzOgYLHe8r70JZ0qj_F35OIvCYdgtA-kGOFGZ4Ik6lV/s320/tumblr_m2gdx1zsNH1r4bihwo1_1280_large.jpg" width="236" /></a></div>
Sou o mesmo cara observando os carros raros e lentos percorrerem a rua principal enquanto garotinhos observam, encantados, as pernas das putas. Há prazer nisso tudo, na forma em que as pernas são expostas no meio fio e o dinheiro é o único capaz de modificar o cenário. Os velhos passam, buzinam, elas guincham em risos exagerados os cigarros e conhaques que enfim poderão obter, pois o inverno adentra lentamente os portões da pequena cidade, em marcha implacável anunciada no jornal local. As ruas<span style="background-color: white;"> possuem o mesmo fluxo, as moças têm suas delicadezas guardadas e com seus cadernos em punho - após saírem de colégios católicos - e saias curtas, pressagiam, indiscretas, a passagem de rapazes loiros, musculosos, indiferentes.</span><span style="background-color: white;"> A infância corre tão curta, desfilando nesse final de outono como todas as flores que tombam, secas e escuras, das árvores que de repente desfolham. As garotinhas, com suas tramas e histórias, parecem bonecas expostas em tristes vitrines, que em um futuro próximo farão parte da vida de incompletas adultas. Sigo escrevendo como se as moças corassem e fossem belas e puras como a aurora, ao mesmo tempo que sagazes a contrariarem a opinião torta dos homens, incapazes de enxergar as coisas por inteiro. E então pergunto-me: </span><span style="background-color: white;">Onde estão todos os suicidas, escritores, ceguinhos - estes que veem em uma pedra lisa as asperezas da estrada desses caminhos que percorrem sozinhos? Onde moram as moças que nas fotos das paredes úmidas na sala de minha tia-avó, têm nos olhos parados a vaziez da espera? Onde estão as pessoas que fazem quem opta por solidão mudar de ideia? </span><span style="background-color: white;">Onde está a obscenidade da nudez, que hoje é tédio nos carnavais? Onde estão as amarras das bocas dos padres, que aqui não tem o que pregar? Porém, nada disso aparenta importância enquanto os carros andam, os garotinhos olham, as putas guincham, os velhos pagam.</span>Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-68952264959658420542012-07-04T15:39:00.001-07:002012-07-04T15:39:11.437-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-UYuGh0Wtw5BixuBycHw7u6GTQ1il1mDsO6lGDoaoQDcVExFKkelsLKs7bWeWkO8L-qTexWJJr_q1wVxeAtkWVzSmeszV9uarBMM9zCk_wa70MuLDCwIUP1Ggu6PDuznjUcRq4tQUcph/s1600/tumblr_lphl6nmA9d1qjbl8mo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="328" width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK-UYuGh0Wtw5BixuBycHw7u6GTQ1il1mDsO6lGDoaoQDcVExFKkelsLKs7bWeWkO8L-qTexWJJr_q1wVxeAtkWVzSmeszV9uarBMM9zCk_wa70MuLDCwIUP1Ggu6PDuznjUcRq4tQUcph/s400/tumblr_lphl6nmA9d1qjbl8mo1_500_large.jpg" /></a></div>Tuas mãos são nodosas e frias, <br />
incandescentes e memoráveis <br />
nas noites de meus dias<br />
os teus olhos, duas brasas<br />
apagadas antes do tempo,<br />
com um único assopro do vento.<br />
<br />
Minto, teus olhos são duas faíscas<br />
por onde a alegria cruza <br />
e esvai-se, nublando tua face<br />
que torna-se oblíqua e ainda assim bonita<br />
<br />
Teus dentes têm a alvura das estrelas<br />
longes, inalcançáveis, puras <br />
Distantes de minha mente incasta.<br />
<br />
Teu corpo move-se entre os mortais<br />
Tão distinto dos outros todos <br />
Que é triste a alegria dos outros,<br />
E encantadora tua tristeza.<br />
<br />
No meu pensamento criam-se mil epifanias<br />
Que emaranham-se em minha insônia<br />
e preenchem minhas noites todas.<br />
<br />
É que se eu pudesse, e só isso desejaria<br />
te devolvia num único beijo<br />
a alegria que alçou voo dos teus olhos <br />
Como as borboletas que eram mais coloridas<br />
Na tua infância quase esquecida.<br />
<br />
E tudo isso soará tão romantico e antigo<br />
que me calo no instante seguinte<br />
arrependida do que quase digo.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-72055967765449423712012-07-04T14:44:00.001-07:002012-07-04T15:43:51.203-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9mvXU-aPtL_o9KOWzO1KOhTk4NH0opxi_ZRVfDBofr0Quhdb-nXiEmQbWW65u45TspSr79ioD6IUpFyNIPAYJaXeT1Mvt5zZ9axKyhJyn0mvIkInGM3wi2zPvFM1m_-djWhmve10DFmP/s1600/tumblr_m27fdrD5nK1qggcr9o1_1280_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9mvXU-aPtL_o9KOWzO1KOhTk4NH0opxi_ZRVfDBofr0Quhdb-nXiEmQbWW65u45TspSr79ioD6IUpFyNIPAYJaXeT1Mvt5zZ9axKyhJyn0mvIkInGM3wi2zPvFM1m_-djWhmve10DFmP/s400/tumblr_m27fdrD5nK1qggcr9o1_1280_large.jpg" /></a></div>Minha poesia soa torta<br />
e leio admirada os que escrevem com maestria<br />
as coisas que só sei dizer<br />
sem rima, sem métrica, com ironia.<br />
<br />
O lirismo é a única coisa<br />
que faz-me odiar menos <br />
música clássica, minhas roupas, o correr dos dias<br />
as pessoas que não me apreendem <br />
nem por um instante, ou compreendem<br />
<br />
Temo a frieza que me cerca, <br />
e o individualismo latente <br />
e as pessoas espertas <br />
que não entendem nada além de jargões <br />
<br />
Temo acordar amanhã <br />
sem querer ler Pessoa<br />
E almejando dinheiro<br />
como se a morte não existisse<br />
<br />
Temo e no fim durmo <br />
Acordo com as olheiras mais fundas<br />
e os olhos impuros <br />
De quem quer descobrir cada canto do mundo.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-92175468564902314432012-06-18T13:01:00.001-07:002012-06-23T20:43:11.415-07:00Anti-heróiTem uma das mãos pousada em um copo de whisky, outra segurando um cigarro, parecendo um artista francês. O frio predomina fora dos cobertores da casa que não tem, o hotel é pouco acolhedor e empoeirado. Serei inútil só mais uma vez, pensa, semelhante às tardes com cafés fortes, os olhos intensamente quentes, negros, amargos, como todo o resto. A bebida e a fumaça descem pela garganta azeda, passando pelos dentes amarelados, os lábios cortados pelo vento incessante. Atrás da janela, a noite já caiu sob as casas, os prédios são contornados pela luz da lua. Ele, com os cabelos despenteados, a trilha sonora insuportavelmente popular ao fundo, parece um falido escritor de romances nunca lidos. Seu bar preferido fechou, as bebidas não são como antes, querem implantar um desses sistemas, lei seca, proibição à drogas, essas medidas que nunca funcionam. Nada de Kafka, Bukowski, Roberto Carlos, nada de Hilda, Florbela ou Bandeira: todos velhos, caquéticos, ou esquecidos, mortos. Geniais. Uma marchinha antiga de carnaval preenche o recinto, o dono do bar aumenta o volume, ele levanta os olhos da mesa bamba para a saia da garçonete, que graciosamente enche o copo. A noite escorre entre os dedos magros. O peito é preenchido pelo branco dos cabelos, que já passaram dos cem fios. As rugas, os vincos, o dissabor, a azia constante, os livros insatisfatórios que enchem suas linhas de rodeios e o incentivam a permanecer na cama, tudo fazendo círculos em sua mente enquanto o álcool faz efeito. Ao seu lado, uma moça o observa atentamente, e depois põe-se a escrever poemas em seu pequeno caderno, sem ponderar que assim, como ele, acaba-se a maioria dos poetas. Ele tem vontade de dizer o que é que você faz aqui? Vá estudar, que essas matérias preenchem inutilmente as grades curriculares e não são usadas no fim pra nada, mas é assim mesmo, vá fazer amigos e rir e desejar ardentemente ser bem sucedida, rica, burra. Leia jornais, deseje a morte de todos esses que preenchem as colunas policiais, a explosão dos presídios, que a burguesia não pague para viverem sem perspectiva esses vadios. Creia na imprensa, na opinião pública, que não existem exilados políticos, pobres sedentos, gente infeliz. Escove os dentes, seja bela e encantadoramente alegre e que riam também teus olhos claros. Espere ter guardada em ti essa inocência que se perderá na hora certa, e não assim precocemente como os menininhos que não tiveram essa tua chance de estudar, ganhar dinheiro, rir assim leve de programas da TV. Esqueça esses caras intelectualmente superiores que têm sempre mais que trinta anos, nenhum emprego, nenhum juízo, uma faca em baixo do travesseiro com a qual sem sucesso já lanharam os pulsos, mas uma hora vai que. Pare de ler tragédias gregas de escritores tristes, modernistas, ultrarromânticos, bando de vagabundos viados desocupados. Muita gente deseja tua sensibilidade, eles dirão, mas é mentira. Daqui vinte anos, você estará na porta de algum cara insensível ou simplesmente normal, um tanto desequilibrada, bêbada, a pele manchada, as mãos trêmulas, recitando poemas às três da manhã. Mas, sem dizer nada disso, ele simplesmente ri, empina o copo, e levanta para sair à rua como um condenado que aceita sem recorrer à sua pena.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-36798652022443848182012-06-04T13:42:00.000-07:002012-08-06T16:09:27.980-07:00As entrelinhas do meu silêncioVocê me sorri, um riso sincero de dentes manchados, afinal tantos cafés, pouca grana pra dentista, afinal tanto tempo, e pergunto um tanto sem jeito porque é que você não escreve mais. Bem, você fala, escrever não é assim como andar de bicicleta ou nadar: a gente vai perdendo o jeito. E pergunta, apático, o que aconteceu que nunca mais liguei. Por um instante penso que estranho impulso me levou a tua casa e a alguma vez em uma vida inteira arriscar-me a demonstrar qualquer coisa, senão a conhecida indiferença da qual compartilhamos em nossas faces pálidas. Pra responder, depois disso, que simplesmente não sei. Meu interesse, após provocado, adormece em alguma parte minha que nunca se reconhece frágil e jamais se rende, mesmo que reclame por noites inteiras a solidão com a qual não sabe lidar. Você ri mais uma vez e me conhece de tal forma que não me surpreenderia se soubesse que nesse exato momento cruzo os olhos por cada detalhe da tua sala-de-estar procurando, entre a poeira que cobre teus móveis, qualquer mudança que indique teu envolvimento com outra pessoa. Você questiona se quero sentar, ou um chá, talvez um café bem forte, do jeito que eu gosto, e parecemos tão civilizadamente distantes que cogito sair correndo pela tua porta na qual há poucos instantes bati. Falo não, obrigada, estou bem assim, já um tanto hesitante, e uma das tuas sobrancelhas se ergue perguntando em teu lugar o que diabos eu estou fazendo. Não sei, diria mais uma vez e, a cada instante que transcorre, de forma mais insegura. Logo eu, que jamais fora impulsiva ou remotamente inconsequente, logo eu, que por tantas vezes escrevi o que mesmo depois de tanto tempo, várias leituras, milhares de tentativas, conseguiria por fim transpor aos ouvidos de alguém. Você segue parado, em pé, desconfortavelmente posto entre todas as minhas tramas, histórias, escudos e a porta para a qual momentaneamente olhamos os dois, de forma cúmplice e cordial, e para a qual caminho, silenciosa e envergonhada. Você diz foi um prazer te ver, é uma pena que. E tenho, mais do que todas as coisas, uma imensa e abismal pena do irremediável fim sem ponto final que mora em todas as nossas entrelinhas.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-27018058569045611092012-05-31T17:15:00.000-07:002012-06-07T15:19:51.817-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtKDZnuPsB-1OglCWgqmAmXOz5wtXWKCFIMsmhOgJPSwcaGC7rShcEe58qQ-4DElBnGj6C9Z7Qh7430aCuR6sls6e_Cb-UfyuOcXP1cf-ZjJPcLu6_Ae3aIKMJrYYO71MOrKsck1lieLGD/s1600/vini.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="300" width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtKDZnuPsB-1OglCWgqmAmXOz5wtXWKCFIMsmhOgJPSwcaGC7rShcEe58qQ-4DElBnGj6C9Z7Qh7430aCuR6sls6e_Cb-UfyuOcXP1cf-ZjJPcLu6_Ae3aIKMJrYYO71MOrKsck1lieLGD/s400/vini.jpg" /></a></div>
A noite é fria e a lua dista dos meus olhos, que são dois meninozinhos sujos de terra a procurar na discrepância da lama onde afundam meus pés, diamantes cravejados de sinceridade, inexistente nos dias que correm. No meio da roda feita de rosas mortas que cercam meu muro a evitar aproximações, você me sorri como fez outrora, e em minha mente sobrecarregada e infiel tua imagem ganha a tonalidade amarela, a substituir as rugas que nem chegaste a ter. Tuas suposições de que não passo de alguém com medo usando das precárias armas que tem, expressas numa noite sem lua, tornam a vida algo próximo do suportável. Teu jeito de rir sem mostrar os dentes proíbem-me ver que ao meu redor os livros caem das estantes e as pessoas são cobertas por terra, culpadas sem julgamento pela diferença que possuem das demais. A terra treme e engole as pessoas que seguem lotando caixas de super-mercados e campos de futebol. Paga-se por pão e circo sem a percepção dos verdadeiros palhaços. Esqueço tudo isso enquanto houverem poetas, discordância de opiniões, mãos capazes de folhearem até amarelas se tornarem as páginas de livros e sonhos a serem enumerados em meus cadernos. Não acreditarei nas coisas como se apresentam, em lenta morte decadente, enquanto houverem amores recíprocos, brigas que envolvam o intelecto e excluam armas de fogo. Enquanto estiver envolvida na tentativa de transpor a alguém o indizível, as palavras me sustentarão na linha tênue entre o mundo latente em um turbilhão desordenado lá fora e as ideias que me fazem sentir, assim como te sinto, irremediavelmente viva pra sempre.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-56993231794619073102012-05-22T18:09:00.001-07:002012-05-22T18:47:03.864-07:00<strike></strike><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi34KH3BK2NlPO4vi9qy7bmYETvEZ_60XwNAsL3_pWACzKZQfUWwXvsGIx_tCnC-jwvjeeThMklxzNxUhObCYf_U_UCrkcv53nsnJi2SEMGJUxvDgiaUJV5DZBDYwjfhgRKZ310YSc5BSRU/s1600/BUKO.png" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="320" width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi34KH3BK2NlPO4vi9qy7bmYETvEZ_60XwNAsL3_pWACzKZQfUWwXvsGIx_tCnC-jwvjeeThMklxzNxUhObCYf_U_UCrkcv53nsnJi2SEMGJUxvDgiaUJV5DZBDYwjfhgRKZ310YSc5BSRU/s400/BUKO.png" /></a></div>
Escrevo, por vezes, com mais beleza que verdade - e são feias e duras minhas verdades. Procuro sinceridade nas pessoas e acho em tão poucas que é triste. Todos cercam castelos de cartas com um imperador grandioso em forma de dólar americano em seu topo enquanto atravessam as ruas e suas cabeças explodem, mas suas vozes de alguma forma mantem-se nas bocas ensanguentadas proferindo palavras de ordem. Seus neurônios se extinguiram um a um por falta de uso e todos riem gargalhadas cínicas de apreço por seu superior. Não consigo pensar no quão elitista seria uma grande bomba que finalmente os calasse e me permitisse desacreditar em tudo sem frustração - se tudo fosse nada -, e em quão satisfatório seria se. Sou assim porque não posso matar ninguém e invejo as ingenuidades e as loucuras, que mantém as pessoas distantes do que são realmente as outras. Desaprendi esse jeito alheio de fingir serem importantes as amenidades que tornam as coisas todas aceitáveis e menos odiáveis do que meus olhos descrentes vislumbram. Olhos estes que percorrem os lençóis, escassos móveis da cozinha e ladrilhos sujos, observando a lenta marcha dos insetos de encontro ao não-inteligível de seu destino e, portanto, palpável e real. Invejo, por fim, todas as coisas existentes que não têm consciência de si próprias, da enormidade do mundo e das imbecilidades nele presentes.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-18744111514501513772012-05-02T13:38:00.001-07:002012-05-02T13:41:48.065-07:00Sobre crônicas e garotas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZxLxUWFKh4R8HjtqMwiIDD0a_2FUVgwfsvdCVqFHyiJmBybSoBfW08Jb5NsSP9kIwoDsXuZjakZxl2kOn8ki8KCmsGzXBQ7mcs2nU3UwRgZSYR1DxweDEZj4c2C3KQsmpEudFP3JYFmih/s1600/tes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="378" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZxLxUWFKh4R8HjtqMwiIDD0a_2FUVgwfsvdCVqFHyiJmBybSoBfW08Jb5NsSP9kIwoDsXuZjakZxl2kOn8ki8KCmsGzXBQ7mcs2nU3UwRgZSYR1DxweDEZj4c2C3KQsmpEudFP3JYFmih/s400/tes.jpg" /></a></div>
Abro a janela, afasto a cortinas e vislumbro a calmaria das ruas de um domingo para o qual todos já têm planos. Uma moça bem vestida atravessa a rua por entre os carros que esperam abrir o sinal. Seus passos têm a firmeza necessária para derreter homens fortes, a determinação misturada ao céu dos olhos capaz de coagir os mais seguros rapazes.
A peculiaridade no farfalhar de suas saias, os cachos perfeitamente alinhados que tocam a fineza da cintura bem-desenhada e a boca colorida por marcante vermelho-vivo, causam-me fascínio e torpor. O vento lhe encurta as saias e afasta os cabelos do dorso branco, recebendo sua indiferença igualmente dedicada aos pais de família, senhores idosos e moças que desejam a si próprias igual vitalidade.
De meu pouco entendimento de seus segredos retiro inspiração para a crônica de segunda-feira que passará em branco aos olhos de muita gente e será talvez a cama onde dormitará um mendigo ou receberá em suas cuidadosamente escolhidas palavras dejetos de um animal doméstico qualquer.
A moça que cruza minha rua nesse instante sem que eu saiba nunca de encontro a que destino, desconhece a poesia contida na brandura de seus atos que não a aprisionam em definição alguma. Quem sabe que pensamentos moram atrás dos olhos que recusam-se a luz por milésimos de segundo antes de mostrarem-se novamente azuis e vivos como nunca foram aos olhos imprecisos de um admirador?
Seus passos firmes a mantém encantando as ruas adormecidas da cidade, enquanto todos fazem alguma coisa infinitamente mais útil que sonhar.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-83722073579836123422012-04-28T17:26:00.000-07:002012-04-28T17:35:38.342-07:00Os textos raros de sempre<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbNsWYrUKFw25etteUFUXG7bL_JT7qNktrNsecf_cuQcUlwml31tVB7W7Y6dNyHsDrwCkBpYWMAWUiYG1IwlZfyTe1bXJqw55EkkAvNod-leSVs0ueQLIs9urGOX94LQjN5vAKkW_xTalH/s1600/33333333.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="320" width="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbNsWYrUKFw25etteUFUXG7bL_JT7qNktrNsecf_cuQcUlwml31tVB7W7Y6dNyHsDrwCkBpYWMAWUiYG1IwlZfyTe1bXJqw55EkkAvNod-leSVs0ueQLIs9urGOX94LQjN5vAKkW_xTalH/s400/33333333.jpg" /></a></div>
Você não escreve mais como antes. Agora é como se não mais falasse nos caras que arruinaram a tua vida e te rejeitaram e te tornaram uma criatura amarga de mais pra suportar qualquer outra aproximação, e nem parece tão dramática ou solitária com teu sorriso disfarçado que ainda existe apesar de você ser agora alguém em quem esse sorriso se encaixa. Que estranho. Você não reclama mais a beleza que vê na feiura e fica difícil te imaginar com chocolate lendo textos clichês e jurando que eles são todos pra você. Você até parou de escrever que é exclusivamente a guria que se decepcionou por querer e gostar sempre a mais que o permitido pelas leis do mundo frio e cruel que cerca tua casinha de amores mal construídos. Você parece se interessar pelos mesmos caras socialmente compatíveis e contar as mesmas piadas sobre como exercícios físicos se tornam menos suportáveis ao passo em que você conhece autores melhores e lê em dois dias livros investigativos até pular pra mais contos ultra-românticos que te fazem suspirar coisas que nunca viveu. Mas, de qualquer jeito, queria ver você escrevendo de novo tristezas inconsoláveis, cálidas, trágicas com esse jeito classe média que sofre sem nunca ter passado por nada verdadeiramente ruim. Queria ler de novo no teu riso fatigado que já envelheceu alguns tons, frases decepcionadas de quem sempre esperou e confiou sem receber garantia. Quero de novo te admirar sem saber porque vendo respingado nos teus textos vontades inóspitas de realidade, que se escondem igualmente irreais no fundo turvo do teu olhar negro de saudades. Acho bonito você se sentir anormal sem ver a beleza de se ver refletido na falta que faz alguém. Quero chorar sem admitir os teus mesmos fins infelizes que se repetem ao longo dos meses e hoje quase não existem, porque você anda ocupada de mais correspondendo a expectativas que nem são suas. Quero te ver criticando todos os homens do mundo por conta de um só com impressionantes apresso e ódio confundidos em linhas mal pontuadas que não tem como prioridade seguir com destreza acentuação ou concordância. Só espero que algum dia desses você consiga atingir de novo alguém com teu jeito quase rebuscado de dizer clichês que já dizem tudo, com a mesma honestidade e clareza e incompletude de sempre, procurando chegar com palavras ao patamar superior onde vivem os teus deuses em estátuas de ouro que sabem ferir. Espero que você volte a ser única justamente onde é só mais uma, que escreva procurando nas ruelas tortas das palavras pelo modo como é quando quer mais do que pode alguém.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-50895300739824412632012-04-18T16:22:00.005-07:002012-04-18T16:54:55.536-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzucTIq3F-c16cSnSQNg4iChGKaUjSeAU_hrGaFOIm3Jg3F6VlxeUudijOV35yJm2CGvxLQufdtvfWwVd5YMhOHDQ_vOM19BRdt_77nXOBunHj2aC1DrKpH85yzejNHtpChvuJthsMoY4s/s1600/vinicius_de_moraes_large.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 261px; height: 299px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzucTIq3F-c16cSnSQNg4iChGKaUjSeAU_hrGaFOIm3Jg3F6VlxeUudijOV35yJm2CGvxLQufdtvfWwVd5YMhOHDQ_vOM19BRdt_77nXOBunHj2aC1DrKpH85yzejNHtpChvuJthsMoY4s/s400/vinicius_de_moraes_large.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5732893493354609682" /></a><br />Os faraós dançam, os poetas gritam e Deus chora em um canto da sala, mas todos estão mortos. A poesia e a religião estão sepultadas ao lado de todos os românticos e seus mundos feitos de nuvens, de onde enxergam tudo e tocam em nada. <br />Num poeta há qualquer coisa de desesperador, uma urgência de quem sabe que morre todo dia aos poucos e não há chance de reversão. Os poemas silenciam pedaços inteiros de ideias, calam a parte mais bela das paixões, pois o ponto que se pinga em uma frase inconclusa leva o leitor a conclusões ainda mais lindas. Poeta é um mágico que tem como truque levar a outra dimensão - que só fica interessante quando desenhada em palavras concretas - o homem seu igual que não tem tempo de voar. Mas no fundo todo mundo carrega poesia, um interesse pela pureza das coisas que não se sente naturalmente. É preciso imaginar. Cambaleamos pelo deserto das ruas a procurar inúteis certezas na banalidade das coisas que não nos preenchem. No fundo de todos os mistérios, moram nossas criações e medos pra afastarmos nós próprios do quão assustador é atingir um objetivo, e ter um dia um vazio que já foi preenchido. Mora em toda grosseria um amor mau acolhido, um medo de ter e perder.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-9284027797832407902012-04-13T15:31:00.002-07:002012-04-13T15:45:12.010-07:00Abandono em cada canto um pedaço meu que não foi verdade. Têm monstros que moram em mim que nem ao menos conheço, e anjos meus que se escondem pelas carnes. Todos eles têm medo dos meus olhos atentos, e tenho eu ora medo de descobri-los, ora vontade de descobrir-me. Se nem bem eu sei o que me cerca e me atormenta, tampouco o que me habita, como ouso pedir que me entendam? Por que insisto em querer que me leiam? Por que não calo esses gritos incompreensíveis que abandonam minha boca de encontro ao eterno buraco do ininteligível?<br />Procuro nos meus guardados pensamentos que consolem e tudo se confunde cada vez mais. Escrevo por mim, guria que no espelho me parece deslocada de uma realidade presente, pelos meus tormentos, pra te esquecer. Te eternizar é mero acaso.<br />Escrevo pra fugir do tema, pra não ter foco, pra ter a cara que quiser e não essa massa pálida de olhos grandes e fundos sem saber por quê. Escrevo pra me guardar um pouquinho a cada dia antes de submergir no mar do tempo. Quero deixar-me por aí mesmo sem importância, mesmo sem caber no mundo de ninguém.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-78037298421922339742012-04-13T08:46:00.011-07:002012-04-13T09:22:48.960-07:00A vida das baratas e uma crítica qualquer<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkpj_e1yNBXZ7rjuJaybavXot0IK0RF8KziZI9bsM5_5JgHj5nNrVbgrCjw5KjWRg8zNuJl52PswDZoz6gckJxSxs2uGDSduRvv-NeKSL4FZqaM3N4v0JfJRx7CeVkJereRDQYDldCI8yC/s1600/tumblr_lyukl3nMmD1rngdyko1_500_large+%25281%2529.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 340px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkpj_e1yNBXZ7rjuJaybavXot0IK0RF8KziZI9bsM5_5JgHj5nNrVbgrCjw5KjWRg8zNuJl52PswDZoz6gckJxSxs2uGDSduRvv-NeKSL4FZqaM3N4v0JfJRx7CeVkJereRDQYDldCI8yC/s400/tumblr_lyukl3nMmD1rngdyko1_500_large+%25281%2529.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5730919612684824914" /></a><br />Não tenho inspiração, é tarde e o sol vai se reduzindo enquanto em outro lugar do mundo é manhã cedo. As pessoas vivem ao redor da vida umas das outras, penso, vão a festas, mostram-se empolgadas e são tristes. Eu não sou ninguém e aguardo calmamente que os risos que são bolhas de sabão explodam e me deixem dormir. Sirvo um suco, como mortadela e pão e os vizinhos malham multiplicando o odor dos corredores. As baratas com suas minúsculas pernas movimentam sua massa suja pelo meio-fio sempre em frente enquanto eu cuido do quão inútil é cuidar a vida de alguém. Guardo palavrões e a vontade de expor verdades graças aos princípios da escrita refinada, ouso ser sutil, mas as verdades permanecem dentro ou fora de belas frases. As cenas se repetem e nenhum rosto marca na minha mente atulhada de resquícios não-utilizáveis de tudo que eu escrevi, li e quis e hoje é plano de fundo de novas expectativas muito provavelmente sem serventia. As pessoas seguem esperando milagres enquanto a vida corre sob seus narizes. Vocês são todos iguais e não me deixam sonhar e esquecer que sou idêntica a qualquer um. Deito e durmo e grito me deixem em paz, vocês não tem nada pra ver aqui.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-22525594405575594332012-04-02T16:35:00.004-07:002012-04-03T17:13:20.443-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfjCF9LLXw36rhCHwy72d7CTau2FB172-x28PmRsT8wpVdKFHbwaYjME-bCRshvuFchXXVcYYSWZIvHIC5DP603qr-ol375Pm06k9bmO_F43q48m5k2iojyBZxr_iy6yZtzPPVmlp8Sqqf/s1600/111111.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 304px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfjCF9LLXw36rhCHwy72d7CTau2FB172-x28PmRsT8wpVdKFHbwaYjME-bCRshvuFchXXVcYYSWZIvHIC5DP603qr-ol375Pm06k9bmO_F43q48m5k2iojyBZxr_iy6yZtzPPVmlp8Sqqf/s400/111111.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5726952197231777986" /></a><br />O fantasma da guria que eu fui corre solto nos quintais da minha infância. Almejo tanto ter devolvida aquela liberdade, que só é sentida na brisa da impressão do amor. Que triste fim o da realidade, que faz crescer as crianças, de insignificantes os loucos e sozinhos os poetas. E que triste infortúnio que até o amor cresce, chamando de mãe a cabeça e não o peito, que a imaginação me devolve a infância com rosto de homem, me tira o chão, por preciosos raros meses. Dá-me depois a realidade, devolvendo-me o chão e as tristezas. Tenho de novo oitenta anos.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-44739912755580041882012-03-25T17:10:00.004-07:002012-03-25T17:37:08.640-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0kOr-c2ZbbgcwWXpZJe_eRyi-z7dhe7zNd9-4eFKAXANT4P3ENT7eQc_1qOCp6e3fVRP3S3ZsCbaQJrRykkG31K4KQFXMCQdvQFK2BvbSVEP23tf6TIoZcbTS81MFeD_Xj6N5bX7HHl3A/s1600/ttttttttttttt.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 303px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0kOr-c2ZbbgcwWXpZJe_eRyi-z7dhe7zNd9-4eFKAXANT4P3ENT7eQc_1qOCp6e3fVRP3S3ZsCbaQJrRykkG31K4KQFXMCQdvQFK2BvbSVEP23tf6TIoZcbTS81MFeD_Xj6N5bX7HHl3A/s400/ttttttttttttt.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5723998338585609570" /></a><br />Leio nos teus lábios ressecados um riso que é fadiga de dor, cansaço de mim. Subentendido em teu sorriso está o adeus cabível a quem não cabe em si. Transbordo um não entendimento próprio que não abre espaço a qualquer contato, a redoma que me cerca construí na descrença dos meus braços em abraços verdadeiros. Minha tristeza é um velho mendigo de barba vomitada, que nunca mais terá outra casa se não a imundice de ruas solitárias e invernais. Minha coragem são as rosas sangrentas que brotam do lado externo do muro que protege o mundo das minhas sujeiras escondidas sob largos tapetes negros. Sou o resultado dos naufrágios das saudades todas do que nunca tive.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-5175555235911919672012-03-13T15:31:00.004-07:002012-03-16T19:09:07.954-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-s0NZs5PsWtlgbfnzqxvgsj0sbdJ1UrkwQCD9_Dad8qzlOtDH9C5iDjvaeeWd35n-dyWor4IXa7IRetCBatku4Rcs7npG2PWcHeLLvzEPG9O6ZhGlGeSzl2Tv9DdXIRh6o3bTCqSV0fE2/s1600/ttttt.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 315px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-s0NZs5PsWtlgbfnzqxvgsj0sbdJ1UrkwQCD9_Dad8qzlOtDH9C5iDjvaeeWd35n-dyWor4IXa7IRetCBatku4Rcs7npG2PWcHeLLvzEPG9O6ZhGlGeSzl2Tv9DdXIRh6o3bTCqSV0fE2/s400/ttttt.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5720682190788608274" /></a><br />Quando triste desenho nas margens dos cadernos meninas sorridentes, bocas desfiguradas, olhos doentios, crânios desproporcionais ao lado de zumbis sedentos, de olhos vidrados, crânios partidos, mandíbulas esticadas. Os gritos se encontram nos meus ouvidos, o desespero nas minhas mãos, a imaginação me tritura a sanidade. Uma menina acuada berra e chora dentro de mim.<br />No quartinho dela minúsculo sustentado no vazio das minhas entranhas correm gotas escarlate de relógios derretidos, pregos dançam incessantes abrindo novos caminhos, enquanto eu, a sacudir todo corpo, sinto a menina pular corda e rir alto, cada vez mais alto do eco dos meus gritos de pavor todos engolidos no meio de qualquer uma das aulas. Minhas mãos pressionam o estômago, mas não é lá, e nem em qualquer outro pedaço palpável órgão tecido célula, ela nem eu sabemos onde é a sua casinha sem porta em algum ponto de encontro de todas as minhas viagens, meu derradeiro paradeiro.<br />A noite quando tento dormir, ela grita bem alto fica, fica, fica comigo não me deixe aqui onde não sei quem sou nem o que quero nem pra onde vou. Eu digo calma, querida, você não é a única. E nesses momentos chego a criar até compaixão, certo reconhecimento, empatia, com a tristeza da menininha que é minha e eu sou dela, que sem ela pra culpar pelas minhas insônias, se não é ela pra ser a minha loucura toda morando em uma casinha onde os relógios derretem, o que ia ser de mim? Também tô com medo, lindinha, deixa eu entrar no teu quarto? Deixa, deixa eu me encolher na tua caminha e pedir pra um Deus lá em cima que ninguém conhece que nem você, que ninguém sabe qual é o rosto, pra um dia eu ser eterna e plenamente feliz? Viu, sou burra, tola, romântica porque só assim me sinto por cima dessa merda toda. A igualdade me detesta, ou talvez seja o contrário.<br />E no outro dia saiba que ela grita, cada vez mais alto, implorando um socorro que nunca chega porque lá dentro do meu peito nada entra nada sai só a menininha que nasceu lá, nem eu nem ela sabemos porque ou como, que grita e esperneia em busca da salvação, assim como eu e você.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-50471561357916528062012-03-09T15:36:00.003-08:002012-03-09T16:16:47.791-08:00Teus olhos e meus cacos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRcCAj7YJWY_jtcbyGlM1dim6tBq5mkSmIClwXGNNntpFAJrCZr7-1QNu2Eco7IP8uJF4g6SP7YQgHrDmyRMa67oWfjEQz6C5B5wH2df1VDkhZakaY9ZE91X1RH3G7EatO6i0FRVApIfUR/s1600/tt.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 283px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRcCAj7YJWY_jtcbyGlM1dim6tBq5mkSmIClwXGNNntpFAJrCZr7-1QNu2Eco7IP8uJF4g6SP7YQgHrDmyRMa67oWfjEQz6C5B5wH2df1VDkhZakaY9ZE91X1RH3G7EatO6i0FRVApIfUR/s400/tt.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5718055713273768002" /></a><br />Saudade das coisas findas que nos teus olhos de azul fundo fingiam-se eternas. Olhos nos quais, quando atingidos pela luz do sol, nasce por dentro uma flor de azul claro que cresce até sufocar e matar a anterior, sendo essa a morte mais linda que eu já vi. Sinto falta de não querer nada que ultrapasse os limites da realidade, de um sorriso simples igual esse teu, como se tudo lá fora estivesse em perfeito equilíbrio, as criancinhas, os postes, os telhados, as sinaleiras, os muros, os risos. Sinto falta de uma leveza que perdi, aos poucos, assim como se extrai lascas da vagueza dos dias, das falas das pessoas, da feiúra de algumas coisas. Saudade do guri que tu era e não conheci, sem onda de dor nenhuma por dentro do mar que são teus olhos. Falta tenho é de um jeito meu de querer um presente e ele apenas, e do contentamento de pegá-lo nos braços, depois de porem em sua presença um preço. Sinto falta dos desejos compráveis e da pressa tola de decidi-los até o natal. Saudade do poder que nunca tive de engolir de uma só vez os meus choros guardados, risos escondidos, sorrisos mortos e todas as palavras que guardei pra não ferir e viraram cacos minúsculos a me arranharem a garganta por onde um dia almejaram sair. Queria mesmo mais que todas as coisas vomitar esse medo todo de viver.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-157534436110567010.post-41579636658321877242012-02-18T13:18:00.007-08:002012-06-07T15:28:13.814-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7N2q6ezzIaweZlrZSDG1pxVFJ08UCYOYuXymEfigmkyXKzs5dWFG_qASntRrVW96-xl_Vy7LsuJ_tgzelPt1znDF-w7OImVabkxYvmVuQ8DHskauflsMRjJnMJ8iw-7VngS8dUrMQ0pit/s1600/CUD.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 295px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7N2q6ezzIaweZlrZSDG1pxVFJ08UCYOYuXymEfigmkyXKzs5dWFG_qASntRrVW96-xl_Vy7LsuJ_tgzelPt1znDF-w7OImVabkxYvmVuQ8DHskauflsMRjJnMJ8iw-7VngS8dUrMQ0pit/s400/CUD.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5710595590320834626" /></a><br />Não expresso drama nenhum, mas no fundo quero sumir, achar antes um jeito bacana de dizer assim, bem séria, que as coisas todas estão melhores: o mundo as pessoas as empresas, tudo lindamente sem egoísmos se estruturando ao redor das massas pensantes, gente tão genial essas máquinas de fazer dinheiro e alegrias. Você olhava sóbrio o vácuo, a parede da sala minúscula; você enclausurado dizendo: Será que um dia vão nos aceitar mesmo assim? Acorda, querido, as pessoas só aceitam, convivem, fazem filhos, compram apartamentos espaçosos de vistas privilegiadas sem esgoto algum por perto com seus iguais. Vai, não faz essa cara de que essa limpeza toda aparente te atrai mais que esse melodrama, essas frases sussurradas assim teus-livros-tua-cultura-não-preenchem-o-teu-vazio. Por favor, não fica com raiva dessa vez, não atinge o primeiro eletrodoméstico que ver com a cadeira branca cheia de furos no encosto só pra me enlouquecer, deixa que essa calmaria nos engole bem antes, não diz assim "fica aqui sozinha com teus dramas, ídolos mortos, teus contos podres e pobres" porque eu juro que não volto atrás. Não sai correndo por aí de sunga colada gritando quem vai nos salvar?, deixa as ideias improdutivas irem e virem, espera aparecer qualquer coisa que sirva pra devolver pra gente a crença de novo, no mundo e nas coisas todas. Não chora assim, espera vir uma esperança que nos resgate de morrermos assim tão murchos e fatigados sem perguntar mais pra ninguém porque foi que tudo ficou tão escuro e todo mundo parece tão burro e ridículo em fantasias de ano inteiro. Larga as minhas pernas, eu preciso ir embora entrar em casa aquecer o café deitar a poltrona ler amenidades e tragédias super-focadas pela mídia que dramatiza sem propor soluções igualzinha a nós. Vai dormir tomar um chá engolir essa semana inteira em goles pequenos e doloridos de trabalhos mal recompensados, procura a companhia de um amigo desses que te chame pra ver TV e ouvir as notícias e sorrir de dentes tortos mais uma tarde vencida, mais um dia, mais uma manhã onde tudo parece perfeitamente posto em espera pra quando se recuperar a lucidez.Júlia Kabbashttp://www.blogger.com/profile/03871513675818123798noreply@blogger.com4