30/05/2013

Nunca pronunciava-se sobre aqueles que a esquecerem e cuspiram nas faces palavras indóceis ou, pior de tudo, que, sem aviso prévio - fora esse pressentimento agoniante que a assolou por dias-, disseram até logo para nunca mais voltar. E jurou nunca escrever sobre ele, e esquecê-lo entre memórias em sépia, ou esqueceu de jurar justamente para não ter de policiar mais uma área do pensamento, que esse seu jeito de apagá-lo a cada minuto é nada além de mantê-lo, definitivo, em infindáveis noites de insonia rindo convencido de tê-la para si ainda por muito anos. Então o odeia pelo tempo necessário para sentir-se tola e jurar esquecê-lo, para rememorar-se em seu esquecimento febril de seus mínimos gestos e trejeitos. E diz assim que ele a levou uma crença abstrata que lhe nutria os dias de que tudo no fim dava certo, e passou a querê-lo já sem esperanças. E fica assim um cheiro de flores mortas sangue seco insetos esmagados entre os lençóis, livros, cadernos e alimentos como se tudo no quarto estivesse lenta e compassivamente destroçando-se. É que há tanto tempo o peito pequeno já não arfa com romantismos antigos nem os lábios finos proferem versos de Florbela ou Neruda que anda entristecida procurando explicações religiosas budismos espíritos e débitos antigos imemoráveis para não abandonar a si, mesmo que no fundo desconfie, graças a essas evidências mortes súbitas coletivas e abandonos inexplicáveis que Deus tenha morrido há alguns séculos em algum buraco da africa setentrional. E com a calma aparente de sempre disse-me que está presa as suas palavras ídolos literatura, e que a liberdade deve ser algo como vagar sem ninguém, sem nunca ter amado ou conhecido a dor, ou talvez tomado pela doença do esquecimento, sem buscar resposta alguma. Que as certezas nos apreendem como os feitos cotidianos pra fugir de si. E disse tantas outras coisas já tão velhas como só sei escrever sobre mim e quando morrer vou existir, morrer de amor é a derradeira libertação.

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