19/08/2012

“Mergulhar em alívio no buraco negro meu de bicho vil, no meu pedantismo de animal aculturado. Para sempre: ir.”


Essa é minha vontade: te ligar todas as noites, o travesseiro empapado, o suor e as lágrimas mistos em branquíssimos lençóis, e ouvir a mesma caixa postal na qual um recado qualquer poderia ser deixado e jamais respondido. Só pra assim dar um jeito de não desistir de ti, numa caixa qualquer, uma caixa escura, minúscula, triste, a qual felizmente você não pertence. Desculpe, estou me dispersando, mas nada além dessa ligação insistente e muda de não-desistência e chorosa de todas as noites faz sentido, tua morte não faz sentido, minha dor não faz sentido, tua falta é um buraco escavado na minha face cada dia mais magra, face essa sem sentido que carrega em seus vincos o dissabor da espera. Por quem sabe que não vem, não atende, não responde, não liga. E mais uma vez minha tristeza mora nas concessivas e malditas palavras: as tuas que não vem, as minhas que desgastam-se por papéis, entre cadernos, copos d'água e remédios pra dormir. Perdidas, nesse processo entre meu peito minha mente minhas folhas, estas saem emocionadas, cortantes, e ainda assim palavras: filtradas. E no fundo tem essa vontade, a de te ligar e ouvir do outro lado da linha você dizer assim fica calma menina e sonha, sonha que o medo passa, sonha e esconde a máscara, só dessa vez. Meu choro é por ti, por mim, pelo mundo latente atrás das janelas que é vivo e real de mais, por tudo isso que não toco e não cheiro e escorre límpido em minhas lágrimas. Choro a morte e a loucura, e nada disso me pertence. Então te pergunto, em meu sonho, entre soluços entrecortados, o que é que eu faço pra seguir acreditando? Ao que você responde, com a serenidade de sempre: viva.

Um comentário:

  1. Palavras que refletem um desespero intenso de uma alma inquieta que buscam por alguém. Esse alguém, parece ser o oposto do turbilhão de emoções que é a pessoa do texto.

    Gostei. Gosto desse tipo de literatura.

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