31/05/2012

A noite é fria e a lua dista dos meus olhos, que são dois meninozinhos sujos de terra a procurar na discrepância da lama onde afundam meus pés, diamantes cravejados de sinceridade, inexistente nos dias que correm. No meio da roda feita de rosas mortas que cercam meu muro a evitar aproximações, você me sorri como fez outrora, e em minha mente sobrecarregada e infiel tua imagem ganha a tonalidade amarela, a substituir as rugas que nem chegaste a ter. Tuas suposições de que não passo de alguém com medo usando das precárias armas que tem, expressas numa noite sem lua, tornam a vida algo próximo do suportável. Teu jeito de rir sem mostrar os dentes proíbem-me ver que ao meu redor os livros caem das estantes e as pessoas são cobertas por terra, culpadas sem julgamento pela diferença que possuem das demais. A terra treme e engole as pessoas que seguem lotando caixas de super-mercados e campos de futebol. Paga-se por pão e circo sem a percepção dos verdadeiros palhaços. Esqueço tudo isso enquanto houverem poetas, discordância de opiniões, mãos capazes de folhearem até amarelas se tornarem as páginas de livros e sonhos a serem enumerados em meus cadernos. Não acreditarei nas coisas como se apresentam, em lenta morte decadente, enquanto houverem amores recíprocos, brigas que envolvam o intelecto e excluam armas de fogo. Enquanto estiver envolvida na tentativa de transpor a alguém o indizível, as palavras me sustentarão na linha tênue entre o mundo latente em um turbilhão desordenado lá fora e as ideias que me fazem sentir, assim como te sinto, irremediavelmente viva pra sempre.

Um comentário:

  1. Oi, grato pelo comentário, e parabéns pelo teu blog, de bastante qualidade. Bjo

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