18/04/2012


Os faraós dançam, os poetas gritam e Deus chora em um canto da sala, mas todos estão mortos. A poesia e a religião estão sepultadas ao lado de todos os românticos e seus mundos feitos de nuvens, de onde enxergam tudo e tocam em nada.
Num poeta há qualquer coisa de desesperador, uma urgência de quem sabe que morre todo dia aos poucos e não há chance de reversão. Os poemas silenciam pedaços inteiros de ideias, calam a parte mais bela das paixões, pois o ponto que se pinga em uma frase inconclusa leva o leitor a conclusões ainda mais lindas. Poeta é um mágico que tem como truque levar a outra dimensão - que só fica interessante quando desenhada em palavras concretas - o homem seu igual que não tem tempo de voar. Mas no fundo todo mundo carrega poesia, um interesse pela pureza das coisas que não se sente naturalmente. É preciso imaginar. Cambaleamos pelo deserto das ruas a procurar inúteis certezas na banalidade das coisas que não nos preenchem. No fundo de todos os mistérios, moram nossas criações e medos pra afastarmos nós próprios do quão assustador é atingir um objetivo, e ter um dia um vazio que já foi preenchido. Mora em toda grosseria um amor mau acolhido, um medo de ter e perder.

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