09/03/2012

Teus olhos e meus cacos


Saudade das coisas findas que nos teus olhos de azul fundo fingiam-se eternas. Olhos nos quais, quando atingidos pela luz do sol, nasce por dentro uma flor de azul claro que cresce até sufocar e matar a anterior, sendo essa a morte mais linda que eu já vi. Sinto falta de não querer nada que ultrapasse os limites da realidade, de um sorriso simples igual esse teu, como se tudo lá fora estivesse em perfeito equilíbrio, as criancinhas, os postes, os telhados, as sinaleiras, os muros, os risos. Sinto falta de uma leveza que perdi, aos poucos, assim como se extrai lascas da vagueza dos dias, das falas das pessoas, da feiúra de algumas coisas. Saudade do guri que tu era e não conheci, sem onda de dor nenhuma por dentro do mar que são teus olhos. Falta tenho é de um jeito meu de querer um presente e ele apenas, e do contentamento de pegá-lo nos braços, depois de porem em sua presença um preço. Sinto falta dos desejos compráveis e da pressa tola de decidi-los até o natal. Saudade do poder que nunca tive de engolir de uma só vez os meus choros guardados, risos escondidos, sorrisos mortos e todas as palavras que guardei pra não ferir e viraram cacos minúsculos a me arranharem a garganta por onde um dia almejaram sair. Queria mesmo mais que todas as coisas vomitar esse medo todo de viver.

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