19/12/2011


É que sempre lembro de ti no banco do carro contabilizando as compras numa cidade de neve com a tua família, o preço do chocolate suíço, o hotel que tem gente famosa, a decoração dos lugares certos, teus novos sonhos de consumo. E que você não se referia a minha vida ou perguntava de vez em quando educadamente se eu já tinha ido pra tão longe. Me lembro de sermos tão opostos porque eu juntava uns trocos pra estudar e tu vivia com tudo aquilo que eu sonhava pra mim daqui a trinta anos. Me lembro de sermos tão iguais juntos no colchão que vale o salário de um ano todo do meu pai. Lembro que eu ainda achava em você alguma coisa impossível de existir em outra garota e você achava legal gostar de um cara como eu. E da manhã seguinte ao nosso retorno, dos teus pés entrando calmos na banheira, tuas mãos chamando a água quente, teu óleo de banho competindo no meu nariz com o cheiro de café. Você saiu enrolada na toalha e fez aquela mesma cara de “ops” quando tua roupa toda estava sob nossos pés pela primeira vez, fingindo ser bem-comportada de mais pra ter um cara vidrado nas tuas pernas deitado na tua cama. Lembro de você fazendo panquecas pra tentar impressionar um bobo impressionado e da tua empregada perguntando que bicho te mordeu. E do último fim de semana você se esfregando num cara qualquer pra me mostrar o quanto sou louco por você. Lembro de você virando dissimulada e me ligando tarde da noite pra saber quem é ela. Sendo insegura a ponto de duvidar que “ela” vai ser sempre você. De quando te disse pra acabar, do teu choro no meu colo e do meu choro mudo pelas ruas do teu bairro. Lembro e vou lembrar de você pela última semana em que ainda éramos nós.

3 comentários:

  1. Júlia, obrigada pela sensibilidade em seu comentário no Café com leite de soja. Pouca gente tem empatia. Beijos e voltarei pra te visitar aqui!

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  2. Lindíssimo. Fazia tempo que não lia algo tão bom assim em um blog, fiquei impressionado pela tua escrita. Parabéns.

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  3. Um faca afiada fincou ao meu peito! lindo texto!

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