23/11/2011


Faço sulcos na realidade e nas valas deito minhas fantasias. Observo-as tomarem forma e cor, mesmo que muitas vezes não desgrudem do irreal, apesar de bem juntas à realidade. Sonho é realidade provisória que pra mim é pra sempre, preciso lembrá-los pra ainda ser eu. Quem vive só do concreto quando se perde do corpo vira nada. E quero ir embora ainda assim sendo. Não me interessa que pra ser lembrado ou esquecido, amado ou odiado. Não me interessa que odiando em mim os defeitos e fragilidades com o dedo apontando a fraqueza do outro. Não importa que cheio de defeitos, e sendo, portanto, humano.

Só não vou ser burro de fugir do clichê e fugir da idéia. Negar a dor, assim negando a verdade. Rejeitar a franqueza alheia pra evitar novos sulcos – agora em mim. Não vou interromper a explosão pra não ter de contabilizar os feridos e limpar as ruas que nunca deixam de ser imundas. Não vou abandonar a crítica pra não arcar com solidão. Quem diz o que quer, sente o que não quer. Mas não deixa de sentir.

20/11/2011

Você e minhas verdades


Eu me irrito com você falando amenidades, prefiro as profundidades. Aí você fala que não entende as pessoas que têm a capacidade de dizer que amam, só porque sentem prazer ou gostam de estar junto. Que amor é mais que isso. E quando percebe tá fazendo a minha vontade e falando de coisas sérias, você que sempre brinca. E eu solto uma risada porque me acostumei com a tua graça, e vou dizer que só o que mente mais que o te amo é o pra sempre. Talvez você concorde, talvez ache uma brecha qualquer na resposta pra me contrariar, talvez fique em silêncio e espere minha próxima observação com olhar crítico. Talvez você um dia me culpe por estar sempre um passo à frente dos nossos diálogos e querendo prever os caminhos obscuros da tua mente até tuas respostas sempre inteligentes. Talvez você dispense meus elogios à tua capacidade criativa e teu perfume que misteriosamente nunca morre no meu travesseiro. Talvez eu comece a falar no instante seguinte e depois de pequenas pausas tenha sempre novas idéias porque sempre falta alguma coisa. Talvez você me odeie por ser essa eterna insatisfeita, com você ou não. Ou essa totalmente insatisfeita sem você. E critique meu jeito repetitivo de declarar o que eu sinto nas coisas subliminares, num toque de braços e olhar inseguro. Talvez você critique minha mania de mexer as mãos o tempo todo e observar as roupas das pessoas, o que é puramente um instinto feminino. Talvez só você veja a minha maldade para com as pessoas mesmo sem conseguir odiar ninguém e meu jeito de te odiar te amando. Talvez você desconsidere meus temores de rua escura e de morrer pras pessoas que eu dependo para estar viva e quando tranco e não consigo fazer um elogio. Você pode repetir aquele comentário de que sou boa pra criticar e péssima pra agradecer, fico sem jeito e me morre o lado criativo. Só porque você é assim sempre. E você diz que eu também tenho talento mesmo que eu escreva tão pouco e pra ninguém. E que eu me sinta sozinha nas multidões e tão bem no meu quarto quando for noite. Até porque esse é meu motivo pra te temer e querer fugir do teu olhar analítico por me conhecer e me ver tanto mesmo me vendo com pouca freqüência. E vou fingir que as coisas vão bem quando distante porque você vai me perdoar quando eu disser que tudo não passa de um jeito de mentir pra me defender das tuas idas em cada olá. E pode ser que eu tenha vergonha de cada pensamento meu a teu respeito, e que procure incessante verdades que não deixam de ser obscenas. A mentira às vezes sabe ser tão pura porque o mundo com lente de aumento é sujo mas vou correr o risco porque já cansei das ilusões. E pode ser que isso te desagrade assim como eu, e que você volte a falar amenidades e finja que as coisas não acontecem assim tão rápidas e fortes. Talvez você finja e caia no meu conceito, mesmo que nunca vá perder o lugar que tem na minha cabeça, já que em mim é ela quem sente.