19/09/2011

Cálculos e Exceções


Passava insone úmidos anoiteceres com jarra e copo d’água fazendo-lhe companhia, e na falta de afazeres planejava relações futuras que nunca – agora repetia já sem remorso algum –, nunca viria a ter nem porventura.

Nasciam-lhe conversas inteiras nunca verbalizáveis. Às vezes tão pouco falava, pela consciência de que quem muito fala pouco diz. Era só uma regra, das muitas em que não se devem procurar exceções, já tão escassas e perdidas entre mil coisas que tomam forma literal do que provavelmente aconteceria se.

Infelizmente, digo, é uma pena, mas temos de seguir as probabilidades, a mulher pensa também sem remorso. As coisas acontecem, como já sabemos, porque nelas existe o quase tangível de sua causa somada a influência de outros tantos fatores que tornam reais os fatos que um dia podem ter habitado o imaginário de qualquer um.

Ela errava porque estava sempre em busca da exceção. Era dessas que gostam de contestar regras e torná-las frágeis. Já tão frágeis essas moças. Já tão burras em lutar contra a maré dos acontecimentos, probabilidades e cálculos matemáticos, os quais nunca entedera, que derrubavam suas teorias com as quais acreditava fazer ceder o mundo inteiro. E sempre ela própria cedia de suas más escolhas ao mundo.

E já a mulher tanto inventou, dissimulou os fatos e os enredou – por burrice, hoje admite – em seu corpo, e às mentiras se prendeu pra não ter de dizer a ninguém o quão pouco sabia de si. A mulher nunca disse a si própria. Por isso, nas probabilidades, erros e histórias muitas, sobre medo de lá na frente nada do que previu acontecer, lhe ocupavam a mente enquanto ela própria se abandonava. Acreditava, já para evitar decepções, que o mundo era feito das contas que ela nunca compreenderia e das obviedades que nunca desejaria. Já sem remorsos.

Um comentário:

  1. Olá, Ju!
    Muito obrigado pela visita e obrigado pelos elogios. Fico feliz que tenha gostado dos meus textos.
    Olha, li alguns textos disponibilizados em sua página. Tenho que dizer, com toda sinceridade que os amei.
    São ricos em poesia, som e vida. Possuem uma peculiaridade vibrante, tipicamente poética.
    Há técnica em sua escrita e, o mais importante, sentimento, arte e criatividade. E verdade, pois sim! Há muita verdade no que você escreve. Creio que seus textos transpareceram justamente todos seus intentos ao escrevê-lo. Meus parabéns!
    Creio que você deveria ser publicada.

    Bom, como pôde notar, estou divulgando, inicialmente, contos de terror feitos por mim mesmo. No entanto, escrevo poemas também. Creio - não sei por que - que gostarias mais de ler meus poemas do que meus contos de horror. rsrs
    Caso se interesse, posso te repassá-los via e-mail.
    Beijos e boa sorte na sua empreitada.
    DEUS abençoe.

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