14/08/2011

Fim das exposições


Ninguém mais quer se expor, todo mundo tá com medo de sair gritando dor por aí por causa do julgamento, da crítica, do erro. E medo também tenho eu, só que não tenho o visto como barreira a ser transpassada. Porque todo mundo tem problema em se aceitar, toda pessoa se aponta defeito pra ser mais rápida que o resto do mundo. E o resto do mundo aponta, sem parar. Daí a gente olha pra dentro e tem um medo insuportável de dizer qualquer coisa comprometedora, e não é mais a gente. A gente vira uma vergonha em exposição. Sobe no palco, no nosso lugar, um cabide cheio de receios e não-me-toques. E o palco fica tão vazio, a gente também... Perdemos a opinião, a expressão, perdemos o amor por nós mesmos e pelos outros. Porque amor é vergonha, sentimento é ridículo, choro é deplorável, e vocês fazem tudo isso trancados em seus quartos. Ninguém mais é nu pra nada, tudo precisa de maquiagem, mulher não tem mais beleza. Mulher é moda, tendência, marca, mulher é dinheiro pra esses caras que definem padrões a serem seguidos. O machismo mudou de nome e ninguém viu. E tá todo mundo apontando pro lado errado, pra gordinha de saia na rua, e admirando puta magra na TV. Ta todo mundo expondo o lado errado, inteligência virou recalque, poesia virou depressão, romance virou drama barato. Estamos todos nós fazendo plásticas internas pra seguir o exemplo torto. Estamos nos desligando do que era pra ser certo, vendendo a mente pra ser admirado, virando cópia desse molde de pessoa perfeita que precisa ser igual pra ser o ideal, procurando uma liberdade cega que nos padroniza. A gente tem é que fugir disso, e parar de ignorar a realidade que corre solta nos nossos quintais.

2 comentários:

  1. Olá Júlia
    Acho que compartilho deste sentimento.
    Pois é, em tempos difíceis como estes a banalidade se propaga com força e rapidez.
    O homem tende a rotular tudo que toca, e o que não pode tocar torna-se obsoleto, tal qual o sentimento ou a inteligencia. Acho que isso faz parte da nossa natureza, seja ela qual for.

    "Que há de mais absurdo que o progresso, já que o homem,
    como está provado pelos fatos de todos os dias, é sempre
    igual e semelhante ao homem, isto é, sempre em estado
    selvagem."

    Charles Budelaire

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  2. O texto está muito bom, você escreve com sentimento. Infelizmente não é o que importa nos dias de hoje, o por trás das aparências, o que toca profundo na existência, a verdade que nunca tinha sido possível, apenas um fenômeno que raramente acontece. Dá sim pra viver como você quiser, é a única forma afinal, mas é preciso se esforçar e ir contra a maioria. A recompensa é encontrar quem possa te entender, e que vai sentir a maior felicidade em dividir contigo esse sentimento que ambos talvez compreendam, mas só vivendo na pele pra descobrir.
    Um abraço.

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