13/06/2011

Resumindo-te


Não suporto seus dedos cheios de calos das noites a manusear uma caneta qualquer, nem seu cinismo mal educado. Me irritam tuas músicas que não me saem do pensamento, e até tuas faltas mal justificadas. Ultimamente, veja bem, até minhas próprias idéias - feito líquido grosso impermeável na tua cabeça – me causam incomodações, minhas histórias com toques surreais não me satisfazem mais a imaginação que, com mais calos que tuas mãos, é usada e reusada tentando achar o fim do labirinto. Qualquer barulho me tira a atenção, qualquer mentira me interessa e qualquer pessoa é capaz de me roubar o sossego. Tu me disseste, certa vez, que quando te sentia assim era por causa das dosagens de um dos teus remédios, pois não perdia tempo lendo a bula. Eu ria a procura da tua bula e, por falta dela, só aumentava minhas doses líquidas de ti. A vida sempre me presenteou com somas maiores de ironia, olha só, agora sem o remédio minha cabeça virou bomba-relógio. Tu, a me indicar outro qualquer, um desses teus amigos cheios de dinheiro no banco e ternos pretos no roupeiro, com indicações pra uso e idéias machistas completando-lhe o âmbito. Ombros abertos para o mundo, cabeça fechada pras minhas justificações pra ir embora; tu a me olhar do outro lado da rua, com um daqueles sorrisos de quem sabe tudo, mas não diz nada. Veja que seu amigo acabou sozinho a esperar um carro que o despachasse para qualquer outro lugar do mundo, o qual não precisasse conviver com tipos como eu, uma dessas feministas exageiradas. Palavras dele próprio, antes que me acuse também de mentirosa, já que chamaste minha escrita de tipicamente feudal. Com tantas ofensas poderia ter sumido da tua vida sem avisos antecedentes. Foi então que eu percebi que te avisando, não ia precisar recorrer aos teus mil e um arrependimentos vestidos de ofensas amadoras. Se for pra me pedir desculpas, prove o quanto vale ou não a pena te perdoar. Já falei: não vale nem um pouquinho te perder.

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