20/06/2011

Em carta


Acho que a gente teria muito pra conversar. Sem serem aquelas confissões chorosas, na caça de uma explicação pra ti se desculpar consigo próprio por uma decepção. Acho que amigo nunca morre pra quem o considera irmão, porque enquanto o sangue corre parece que ainda existe... Não sei, instrumentos pra se fazer um túnel do tempo.
Mas, da mesma forma que tu foste embora pra outro país, eu fiz aqui um mundo só meu. Sabe o quanto sou possessiva, tu lia no horóscopo e apontava com o dedo sujo de cola pras palavras “cuidado com o ciúme”. Adorava me dizer quais eram meus erros, acho que mesmo sem saber a resposta certa. E eu aqui, querendo poder dizer isso logo pra ti, que tanto me acusava da arte do "achismo". Eu, o tempo todo cogitando mil hipóteses e versões de mim.
Sabe que estava certo? Sempre achei de mais. Só que, agora, posso ver a certeza diante dos olhos, como te via, com o cabelo amarelo igual limão, subindo em árvores e mostrando como se faz. Escuto o som da certeza, as buzinas em volta do carro, como ouvia tua risada amistosa de deboche, que não me permitia sentir raiva nem por um segundo. E eu nem sei porquê. Nunca soube. Eu, dona de todos os ‘talvez, quem sabe’ do mundo.
Queria saber onde está, mas acho que isso não daria certo. Sempre gostou de mudar de casa com freqüência, e te descrever pra ti mesmo só não é mais tolo que escrever pra ti, por isso vou logo ao que interessa.
Queria, pela última vez, ouvir as provocações por causa dos caras magros de mais com quem eu saía, ver teu sorriso de furinho no queixo pra ironizar a fala das pessoas nas ruas. De um jeito ou de outro, se voltasse ao dia de ver-te pegando a mochila preta e correndo pra não perder o ônibus, teria te parado nem que por dois segundos pra agradecer e... pedir uma visita, dali uns cinco anos quando eu soubesse exatamente o que dizer. Como sei, desse jeito torto, agora.


Um comentário:

  1. Olá. Primeira vez que visito-te. Já estou seguindo...

    Gostei muito do texto. Parece um epitáfio, um epitáfio escrito para alguém em vida! É maluco de minha parte pensar isto. Mas gostei de sua forma de expressão.

    Recentemente escrevi um texto que, na minha interpretação, é meio parecido com o seu. Ele conta a saudade e o arrependimento de uma pessoa, não por ter feito algo, mas por não ter feito. Caso queira ler... http://mateuscordova.blogspot.com/2011/05/depois-do-amanha.html

    Vi seu primeiro post. Sempre que visito um blog pela primeira vez gosto de ver seu post inicial. É normal nos mostrarmos meio perdidos e tal... Comigo foi igual, mas polpei apresentações e fui direto a um post sobre o meio ambiente... Acho que deveria ter me apresentado.

    Obrigado por proporcionar meu aconchego, lendo algo de meu agrado. Gostei muito do blog todo!

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