18/04/2011

sem freio


Ler certos textos quase sempre significam um risco a se assumir, porque nos dizem como ir pra bem longe, mas dificilmente nos indicam o caminho de volta. Às vezes, eu fico perdida e tão distante, que esqueço o tempo e o espaço imenso entre mim e o escritor que me foi, através de suas palavras, o meio mais rápido de locomoção pra sentir um alívio que se segue da desolação imóvel dos dias e das estradas que não acham fim.
O mundo é redondo, tudo é contínuo, a água que escorre da pedra cai no rio, vira travesseiro de pássaro no céu, fica bem cheio até cair sobre a terra e voltar pra pedra. É estranho e difícil se acostumar com essa realidade de não poder parar: tirar um cochilo da vida significa acordar de novo no último lugar da fila.
Coisa de mão beijada não tem graça, já diziam e ainda dizem os meus parentes com mais idade e menos perspectiva. Eu não conto pra eles, não conto pra ninguém.
É que às vezes, só o que eu queria, era poder dormir numa das nuvens que só servem pros pássaros descansarem nos meus sonhos, e me encolher lá em cima pedindo pra que ela nunca se enchesse pra não precisar precipitar, e nem eu, fazendo a escolha errada.
Voltando ao assunto do texto, que é ler pra viajar e tirar os pés no chão, acho que eles – os escritores roteiristas das minhas viagens – são a minha nuvem mais próxima, e nem custam caro ou precisam de água, só de mim e da minha cabeça que, por mais que eu insista com a razão que ainda tenho, não aceita e não se abaixa pra coisa alguma.
Me resta a opção de escrever mais um desses textos sem idéia nítida ou conclusão plausível, e a vontade de continuar com os devaneios. Porque hoje tudo é tão sólido, tocável, preenchido por seguranças, estética, preço, importâncias tão materiais, que, honestamente, poucas coisas ainda podem ser usadas como nuvem antes de todo mundo só querer voar de avião, correr com carro, sonhar em cima do travesseiro.

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