07/04/2011

Não quero esquecer


Um dia desses recebi uma notícia que não me espantou, por saber que acabaria acontecendo cedo ou tarde, mas me causou sensação de impotência e me alarmou por me fazer perceber o que eu vinha ignorando: somos tão pequenos para aprender a lidar com perdas sem volta. Antes de começar a escrever, tive a sensação de já ter lido isso mil outras vezes, em vários lugares por aí. Mas é que expor a própria indignação é diferente de apoiar a alheia. Essa situação me lembrou que, enquanto eu estava com ódio do que ninguém sabe combater, o câncer vem nos combatendo. Comendo, com fúria, o que a gente tem por dentro, mas sem ter a capacidade de nos resignar ou corroer os nossos sonhos.
Da mulher jovem que vê a própria vida definhando, do senhor idoso que perdeu a expressão do rosto após tantas cirurgias, da professora admirada que não resistiu depois de tantos anos lutando: me comovem, me levam a acreditar que as causas nobres e gastas não estão perdidas. Me levam a questionar até que ponto eu resistiria a dores tão grandes, a uma visão tão vasta de mim e tão reduzida das capacidades do meu corpo. Corpo acaba, morre, apaga. A gente ganha apenas um, e uma infinidade de oportunidades nos são lançadas de destinos a dar a ele. Nessas horas, em que a gente pensa na fome das doenças a nos destruírem, todos os comentários infelizes, erros e más interpretações que fizeram de nós, ficam pequenos. O que nós queremos deixar? Que tipo de pessoas queremos que se lembrem da gente, e em que momentos?... Nos enchemos de dúvidas sobre nós mesmos, e admiramos cada vez mais quem não se deixou abater, mesmo compartilhando dos mesmos receios que nós sobre o que tem do outro lado. O que era pra ser um desabafo sobre o descaso e outro milhão de coisas que me causam ódio, virou um pedido, um lembrete pra que eu nunca pare de dar valor e não tire da memória esses bons exemplos que restam no mundo.
Aqui, fica minha pequena homenagem aos que sofrem e se mostram capazes do que eu me pergunto todo dia se teria força suficiente de passar sem abaixar a cabeça. Aos que acabam por perder a vida, mas enquanto a tiveram, não deixaram que se perdessem os sonhos: o que vocês ganharam foi muito mais que meses ou anos somados pra viver, foram fãs. Em conseqüência disso, o que se tornaram? Eternizados.

2 comentários:

  1. lindíssimo e verdadeiro esse texto, júlia! ótimas postagens, saiba que tu tem uma fã de carteirinha ;)
    bjs bjs

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  2. triste realidade..

    adorei o blog

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