09/03/2011

meu julgamento


Agora, as pessoas têm me dito que eu tenho medo do que eu falo, do efeito e do impacto que as palavras têm quando outra pessoa as escuta. E porque não? Me dou o direito de temer, e tenho receio quanto ao que as pessoas vão pensar. Idéia hipócrita essa de quem diz não se importar, um pedaço seu sempre quer consideração. Uma parte sua sempre é hipocrisia, sempre é essa mentira que você acha bonito de contar, por baixo desse pano e do teu sorriso, da tua cara disfarçada de alegria e do sentimento que tem dentro do teu bolso. Mentira é realidade provisória, essa que a gente altera com pensamento e não precisa mexer a bunda da cadeira nem pagar pra ver nem arriscar a cara pra bater nem ter medo de apanhar. Assim fica fácil esquecer a existência das máscaras, que Clarice dizia serem parecidas com a gente: com carnaval ou sem, elas estão lá, intactas, cobrindo suas faces e tapando seus buracos. Estancando sangramentos. Escondendo tuas vergonhas, cobrindo tua nudez. Abrigando no seu interior úmido e fétido, as coisas que apodrecem justamente por estarem ali dentro, donas da segurança discreta das epifânias. E, mesmo nesse amontoado de pessoas se cobrindo com medo de si próprias, eu tenho medo de pensar no que pode acontecer. Olho de canto de olho o futuro, ignorando sua fugacidade em me engolir e me esfregar nos olhos a pimenta da percepção dos meus erros, com uma expressão debochada e um risinho de “eu te avisei”. E eu tenho dito que ser maior é, mesmo quando a realidade me apertar contra a parede e o futuro virar presente me mostrando seu cinismo - esse que as pessoas que só te ajudam te mandando parar de sonhar usam -, seguir nessa minha falta de reação, assumindo a velha postura clichê de "levantar a cabeça e seguir andando". E ria de mim, veja meus defeitos, aponte minha exposição. Eu não ligo. Eu assumo, agora não dá tempo de fugir e deixar pra amanhã. Tudo tem esse gosto de que é cedo de mais pra gritar o fim do mundo, mas irremediavelmente tarde de mais pra fugir e esperar em baixo da mesa, da cama ou da saia de alguém, pra sair de lá intacto com ar de herói que não precisou lutar pra mostrar a sua grandeza. Se é pra ser grande, aprende a não se importar e se aposse das máscaras, disfarces e maquiagens que encontrar por aí e chame como quiser, pra mim é isso: mentira doce. Não me engano desse jeito, não engano ninguém... E, se pudesse, seria a mim mesma pra fingir que o mundo não é assim e perder essa vontade de abraçar as pessoas e dizer que tudo vai ficar bem, sua mãe já vem, o câncer não vai matar seu avô, seu pai não vai falir, e eu não minto pra ver tua boca virar em sorriso. Agora eu fico parada, quieta, vendo esse mar de gente indo embora e esse punhado de gente chegando e ninguém despindo a armadura ou entregando confiança nas minhas mãos: nada vem de graça; eu pago meu preço, com acréscimo e juros. Eu acredito no que você fala e pago pra ver de novo. Me engano, eu sei, me endivido comigo mesma, mas tenho orgulho do meu risco, aprecio a minha causa. Não desdenho a sua também, conseguindo o que quer e não perdendo nada pra ninguém, não ganhando dor de cabeça, não perdendo noites de sono. Eu prefiro mesmo ficar aqui, não me leva contigo e com a tua capacidade de não se importar. Me deixa ser ridícula, patética, à caça do que me move e do que me mantém sã perto desse lixo todo que eu vejo nas mãos de vocês, mas eu sei pelos seus olhos que nem vocês acreditam. Enquanto isso, eu deixo vocês verem a evidência do que eu faço, na transparência do que eu sinto, o que eu sou de verdade. Sem sustos e sem urgências, o que me torno e o que insisto em não abrir mão pra não perder a lucidez, com o que me machuca, e mesmo que eu minta pra não trazer culpas, você sabe que dói. E ta aí: se te dói, é porque te importa.

Um comentário:

  1. omg, eu simplesmente amei o jeito "livre" como voce escreve.. parabéns pelo blog, adorei.
    seguindo.. segue também? http://raiannymartins.blogspot.com

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