31/01/2011


Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui, continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Da minha jaqueta boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.

Caio F. Abreu

27/01/2011

sobre saber ou não


Não digo que a gente não goste de verdade das pessoas. A gente gosta, a gente passa horas pensando, escreve textos enormes e acredita que é isso o pico mais alto do mundo. “Amor”. As pessoas acham que essa palavra move montanhas, atravessa mares, faz gente no mundo inteiro viver mais feliz, por acreditar que existe algo maravilhoso assim que deixa todo mundo bobo e com vontade de ser você só para experimentar essa sensação: ter o coração batendo mais forte, sentir sua mente ficando vazia e você explodindo essa palavra para todo lado. Elas dizem que isso vai alcançar todo mundo, nem adianta se precaverem, que não existe remédio, contra-indicação, doses certas e muito menos qualquer sanidade quando acontecer. E se o que a gente gostar mesmo for de viver o amor idealizado? Aquele tipo de amor que vemos nos filmes, admiramos nos livros e que nos encanta nas músicas, que nos faz pensar em como tudo deve ficar mais fácil se acrescentando essas quatro letras a nossa vida, como ele é o veneno e o antídoto, nosso problema e ao mesmo tempo nossa solução. E se a gente nem ao menos vive, se a gente enxerga tudo com mil coraçõezinhos pra se sentir menos solitário, se a gente tem uma tendência pra dramatizar a nossa vida e transformá-la em mais um desses filmes fajutos com heróis e mocinhas? E se a gente for imaturo ou infantil de mais pra viver no mundo com as pessoas normais e querer enxergar perfeição em quem é humano, e covardes de mais pra admitir essa perspectiva que de tão real consegue ser asfixiante? E se a gente tiver mesmo for medo desse discurso todo, desse nosso juramento de arriscar tudo por pouco mais que nada e ainda correr o risco de sair ferido de uma guerra para qual você vai lutar sem armas? E se a gente acabar não arriscando merda nenhuma pelo simples fato de amar uma fantasia, de desejar uma mentira constante, de construir um castelo de cartas e empregar como guardas as nossas ilusões? E se o amor de verdade for o contrário do que vocês dizem, e tiver como base de sustentação as limitações e defeitos de cada um?
É difícil achar respostas para as nossas perguntas, mais difícil ainda é abrir mão das dúvidas, ponderações e receios que vamos acumulando ao longo do tempo, mas no mínimo chegamos a alguma conclusão: o amor não move o mundo. Ele move as pessoas, ele as motiva para irem de encontro ao que realmente as faz feliz. Se isso for outra pessoa? Se isso for um novo emprego? Se isso for uma viagem, um lugar novo, uma nova sensação? A verdade, e o que descobrimos por ela, é que enquanto fazemos tanto pelos outros, deveríamos fazer mais por nós mesmos, e parar com essa mania de se descobrir imperfeito e continuar cobrando do mundo uma pessoa idealizada.

23/01/2011

dessa vez


Não vou contar. Você não precisa saber. Eu não preciso explicar pela décima vez que está tudo dando errado e me agarrar na sua camiseta e pedir para que você guarde segredo e chorar todas as dores que eu tenho do mundo. Não, dessa vez chega. Dessa vez só um banho quente, música animada, bebida e um novo amor já fazem o seu papel. Dessa vez não é você, é o mundo inteiro. Dessa vez não somos nós, sou eu, minha consciência carregada, meu ódio desnecessário e meus erros sem motivo algum, e você com seu mundo inteiramente feliz. Dessa vez, se eu acreditar, não vou precisar correr pra lugar nenhum e me esconder do que eu nunca sei onde está e todo mundo diz se encontrar dentro de mim mesma. Dessa vez, não tem nada mais dentro de mim. dessa vez não é solidão, é só falta de amor.