07/11/2010

Estranho errado


Não queria de repente sumir, e se sumisse, sumir de ti. Não queria ir embora e nunca mais te ver e - entre tantas outras coisas que eu tenho mentido que não me importo – não queria de forma alguma perder o nosso mínimo contato de nos ver nas ruas e fingir que somos completos estranhos.
Não podemos escolher, tu já me disse. Entendo que seja assim, mas não quero. Nesse tempo de tanta chuva e pouco sol em terra, moramos nesse lugar onde é inevitável ser tão mais diferente que todos a nossa volta. Eu até tentei descobrir alguma maneira de me aproximar mais, só pra dizer que se perdi o medo do mundo e dessas formas sem cor, talvez você carregue sempre um pouco dessa culpa.
Mas quando te perco por onde eu ando, o café consegue ser mais amargo que o habitual, os choros mais incessantes, as cargas horárias mais pesadas e as madrugadas mais longas. E a vida possui aquele gosto amargo de rancor consentido e música dramática de barzinho. O bombom de chocolate preferido consegue igualar-se a sopa de hospital e as coisas coloridas de outros tempos ganham um fundo-cores-pastéis quase insuportável coberto de lembranças.
Mas quando digo isso, e quando ainda assim eu me aproximo, mesmo sobrecarregada de medo e daqueles sentimentos que nunca fizeram bem a pessoa alguma, eu posso enxergar no teu coração os buracos profundos, poços e corredeiras transbordando água e outros conteúdos dos quais desconheço e já me tiraram tantas noites de sono, esgotaram-me a paciência e alimentaram a curiosidade.
E mais uma vez estou longe das minhas escolhas. Choraria, correria, alcançaria. Mas eu nunca alcancei.