01/06/2010

Ela


Ela possuía os olhos mais negros que já vira, e olhava-me de forma peculiar. Perguntava a mim mesmo se sua intenção era se ferir ou ferir aos outros. Sua pele era tão branca que o pequeno arranhão da unha de seu gato parecia um profundo ferimento, e eu imaginava como ficaria aquele rosto se fosse desfigurado por um acidente qualquer.
Acho que sempre tive uma mente psicopata e não havia percebido antes. Por um lado, queria poder ajudar aquela menina, mas por outro sabia que ela não teria futuro em um mundo tão duro, com aquele coração tão pequeno e personalidade tão doce e influenciável. Seria melhor para ela morrer, e se pudesse ao mesmo tempo nutrir o desejo pelo sangue, que sinto há tanto tempo... Eu sou um monstro, e disso não posso fugir.
Tentava me dispersar dos pensamentos que me levavam a vontade de matar, mas parece ser mais forte que eu. Podia até sentir o gosto, o leve fluxo sanguíneo por onde passa o sangue mais doce que já provara... Não fora por gosto, mas não conseguia parar de imaginar meus dentes perfurando seu frágil pescoço e alimentando uma fome que me cerca há tanto tempo.
Seus cabelos, igualmente negros como os olhos, exalavam um cheiro que parecia vir de campos distantes, mas me traziam uma vontade real. Tudo nela me despertava o mais forte instinto que iria mais tarde levá-la a dor, e a mim, instantaneamente ao prazer, porém mais tarde à mais profunda culpa.
Toquei em suas mãos quentes que seguravam a faca que ela desejara usar para fins errôneos. Beijei suas mãos. Sabia, no fundo, que ela me amava e que por mais sombria que parecesse, em sua mente nunca teve idéia de que fosse eu, um vampiro. Podia sentir que me amava.
Quando beijei seus lábios senti uma segurança que me apavorava, mas ao mesmo tempo me satisfazia. Dei um leve beijo em seu pescoço e ela abriu um sorriso, o mais lindo que já vira. Queria mantê-la ali para sempre, queria poder eternizar esse momento, exatamente nessa parte. Porque depois daí, só me restam pezares.

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