29/06/2010

barco


Toda vez que eu jogava aqueles barcos feitos de forma desajeitada no mar turbulento, eu sabia que eles não voltariam. E ficava feliz por darem a eles um destino melhor, do que permanecer comigo e com a liberdade que nunca poderia dá-los. Eu sabia que não poderia ir junto deles, e sabia que eles viriam coisas muito melhores, mesmo estando longe de mim. Eu me lembro das pessoas rindo de mim, mas não me importava. Era como quando eu corria pelos campos do meu avô, que hoje nem o pertencem mais. E hoje, nem eu mesma pertenço a mim, por mais contraditório que isso pareça ser, já que eu nunca fora como sou hoje, já que nunca havia mudado dessa forma.
Eu me lembro de quando eles nadavam em círculos pelas ondas, com movimentos sinuosos, que exigiam total concentração para que eu não perdesse-os de vista, até que eles afundavam e não eram mais vistos. Eu gostava de acreditar que estavam em um lugar bem longe, onde não houvessem banhistas defecando e nem pessoas gritando. Um lugar azul, ao qual eu gostaria de pertencer.

27/06/2010

saudade das certezas


Sinto saudade de quando eu era só uma bolinha quente na barriga da minha mãe. E de quanto eu tinha oito anos e tomava coca naquele copo da Barbie. E do café com bolo da minha avó, que hoje ela não prepara graças ao reumatismo. E das tardes brincando em meio a horta de morangos, e todos os chingamentos quando desastradamente se acertava um deles.
E agora o que foi feito de mim? No que me tornei? Alguém cheio de egoísmos, temores, orgulhos. Eu preferia todos aqueles sorrisos sinceros, e as lágrimas que nunca saiam, porque não havia necessidade, não havia tristeza.
Nunca fora mimada, ao mesmo tempo de que nunca precisei. Eu não precisava de nada, e hoje tudo me parece tão pouco, como um punhado de grama em um campo tão extenso. Eu tinha tudo, minha casa da barbie e meu jogo de botão, que era sagrado à todo sábado. Será que você sabe? Eu prometeria, se pudesse, mas não posso. Não é possível suportar essa saudade, uma saudade enorme, de tudo aquilo que não conheço, de tudo aquilo que não vivi.

26/06/2010

linha orizontal


Se o sol me permitisse faria mais
Mas os dias estão correndo e recuando
E as esperanças são bolas de poeira
No canto da minha sala

Eu me sinto tão diferente,
Das pessoas, todas elas
É como se eu estivesse me perdido
Há muito tempo atrás, sem ninguém

E tudo se tornou íngreme, e incerto
Agora você entende?
Minha natureza é orgulhosa e egoísta
E por trás disso, existem meus sonhos

Por isso preciso mudar constantemente
E tenho feito um esforço demasiado
Mas não vou me adaptar
Eu não quero me conformar com o errado

E agora vou falar sem eloqüência alguma
Eu não preciso disso, nem das suas mentiras
Não posso calar deliberadamente essas palavras
Eu estou absorta nesse mundo, a fantasia que é minha

E essas palavras só são as primeira gotas
De uma imensidão de pensamentos
Mas os mais fortes não podem vir à superfície
Ou desabaria todo o mundo
Todo o meu mundo.

23/06/2010

aos amigos


Quando seu mundo cair e as suas verdades já não forem tão concretas, eu estarei te segurando. Quando seus pés saírem do chão e você acreditar em qualquer palavra e juramento impensado, eu estarei te aconselhando. Quando você se apaixonar, e por quem quer que seja, eu estarei te apoiando, mas ao mesmo tempo, te defendendo. Quando você perceber que o seu passado é mais feliz que seu presente, eu te ajudarei a construir um futuro melhor que os dois juntos.
Quando as pessoas resolverem te mentir, te iludirem e te machucarem, eu ficarei ao seu lado, e te abraçarei mesmo que não possa concertar seu coração partido. Quando você precisar de palavras de consolo, isso te darei, mesmo que saiam só sons desajeitados ou um olhar tímido. Talvez algum dia eu nem entenda sua situação ou sua tristeza, mas com certeza entenderei quando precisar de um abraço.
O tempo, as brigas, a distância, farão com que você esqueça algumas situações, palavras, datas, e isso acontecerá comigo também, assim como irá acontecer com todos. Mas uma coisa as pessoas nunca esquecem, e é o que você provoca nelas e tudo aquilo que você às faz ver e despertar.

verdade ou mentira?


Você não pode passar a duvidar das pessoas. Você precisa, você necessita de toda forma, em qualquer circunstância, você tem de acreditar que tudo seja verdadeiro, mesmo que não seja. Precisa acreditar na amizade, mesmo que ela não exista. Precisa acreditar no amor, mesmo que seja só uma criação inútil da sua imaginação fértil.
Você não precisar usar desse mundo, e dos seus recursos. Você deve aprender a criar suas próprias escolhas, incansavelmente. Por mais que caia, e por mais que pense que as coisas não darão tão certo. Você precisa de seus sorrisos sinceros e amigos sinceros. E se não tiver uma coisa nem outra, pergunte-se, o que foi que você construiu? Dizem que o mundo é feito de conquistadores e conquistados, e todo mundo, uma vez na vida, tem de fazer os dois papéis.

21/06/2010

feliz


Feliz não é aquele que mente alegria, que sorri sem vontade, que conta piada o tempo inteiro. Feliz não é aquele que nunca chora, nem ao menos aquele que nunca ri. Feliz não é a pessoa que pensa só em si, que só vê seu lado nas situações. Feliz não é quem tenta superar os outros, nem mesmo aquele que consegue.
Felizes são as pessoas que conseguem arrancar sorrisos umas das outras com olhares. E são aquelas que podem sentir a felicidade e tristeza alheia, e aceitar. Feliz é aquela pessoa que te abraça nos momentos tristes, é aquela que não tem egoísmo em compartilhar sua capacidade de vencer seus desafios. Feliz é aquele que aceita aos outros como são, e aceita a si próprio. Feliz é aquele que percebe que a vida é muito mais importante, que os sonhos são tudo aquilo que se pode possuir. Feliz é aquele que se esforça mesmo quando está sem forças, e até mesmo aquele que chora sem medo de esconder a lágrima. Que vive sem medo da culpa, e sem medo de rejeições. É aquele que se denomina feliz mesmo quando sabe que nem tudo irá dar certo, que segue o futuro sem alguns pedaços, que vive pelo fato de saber que a vida por mais foda que seja, sempre merece uma segunda chance. Toda pessoa feliz com certeza sempre se permite, e aos outros, uma segunda chance.

19/06/2010

gravidade


Existem dias que as coisas ensistem em te colocar para baixo, e as pessoas, as situações, tudo tem a incrível capacidade de te deixar triste. Mas é então que você passa a não se importar. você passa a não se importar com o que as pessoas vão dizer ou pensar de você, nem mesmo as pessoas que você gosta. Porque você passa a não gostar. E não suportar. Mas o que você menos faz, com certeza, é se importar.

17/06/2010

Estranhos


Éramos muitos. Numerosos em nós mesmos, éramos estranhos inclusive a nosso próprio ver. Suspirávamos ao ver a infelicidade alheia e nossos suspiros, reclamas e desagrados, eram todos justificáveis pelas visões de pessoas que não sabiam, não aprendiam de forma alguma como se encontrar a felicidade.
Em nossa insanidade, especificamente em nossas palavras e hábitos estranhos, encantávamos. Encantávamos sim, e éramos admirados, não apenas pela forma de como agíamos e víamos a vida, mas também na forma como nos tratávamos, com um carinho específico, que nunca fora visto antes. Éramos estranhos, sim, mas na estranheza que possuíamos escondiasse todos os nossos sorrisos. Sabíamos que ao encontrar a normalidade, encontraríamos a tristeza propriamente dita.
O que poderia ser mais anormal do que as tardes que passávamos conversando sobre a vida alheia, discutindo promessas, dedicando nossos conselhos? O que poderia ser mais anormal do que nossas risadas histéricas, fruto de nossas piadas mais infelizes? O que poderia ser mais anormal do que nós mesmos, por assim sermos, sempre tão felizes mesmo quando os problemas nos alcançavam? E o que, ou quem, poderia ser mais feliz do que nós próprios, que por estranhos sermos, éramos todo o resto, éramos tudo, tudo que queríamos ser, quando juntos estávamos.

16/06/2010

qualquer lugar


Preciso de um lugar,
Algum que possa chamar de meu,
Qual motivo de estar tão perdida?
Qual o propósito dessa lucidez constante?
Eu quero enlouquecer
Quero o sol, e a brisa
Quero correr, e decolar
Ir pra longe, além do mar.

imutável e questionável


Estou cheio de palavras, sem tem onde por
E de que servem elas,
Quando ninguém as ouve?
De que serve o sorriso
Se ninguém irá vê-lo?
A alegria tem um propósito maior
E é transformar a sua, em minha
E a sua ajuda, em minha ajuda
Seu abraço, em meu abraço
Sua história, em minha história.

14/06/2010

Tiros no vácuo


Meu silêncio hoje, que se tornou na maior confissão
Minhas palavras, nas maiores mentiras
Meus textos, nas maiores indiretas
E se eu dissesse a verdade, confessaria meus medos
Medo do mundo, das pessoas, de suas dúvidas
Das quais compartilho mentiras
Hipocrisia inconstante, beleza errante
Sonhos sem chão, noite no breu.

09/06/2010

hipócritamente imperfeito



Talvez eu seja gananciosa de mais, mas posso dizer que não consigo, nunca consegui e nunca conseguirei desejar algo que está ao meu alcance. Insisto em ver sempre além de um futuro próximo, a imaginar como será minha vida, se conseguirei realizar meus sonhos. É estranho como dessa forma consigo manter longe as coisas que realmente posso fazer. Como dessa forma me torno alguém mais distante, como na prática de sonhar sempre tanto me transformo em uma decepcionante pessoa feliz.
Estando longe de tudo que eu não gosto, aprendi a conviver com aquilo que gosto e dessa forma aceitando todo o resto. Aprendi tantas coisas, mas ao mesmo tempo são coisas que não posso utilizar. É como nos livros em que todos acabam bem no final, mas ninguém vê o lado do vilão. Ninguém percebe como as coisas ruins só são feitas por culpa de um mundo não somente egoísta, mas que abriga seres dos quais só podem desejar coisas para pertencê-los, sem escrúpulos nem princípios, de uma forma tão empobrecidamente capitalista.
De forma vergonhosa e fraca aceitamos o destino. Como se ele realmente pudesse nos derrubar. Será que a coragem não se esconde por meio dos mais fracos? Ninguém pode prever. Não me arriscaria à tais previsões.

07/06/2010

quero.


Eu não quero aprender. não quero fazer o que os outros dizem que é certo. Quero aprender pelos meus próprios meios, com minhas próprias pernas. Quero poder fazer o errado até chegar ao certo, durando o tempo que durar, tornando segundos ou anos minhas decepções. Quero fazer errado porque eu decidi e não porque os outros aconselharam.
Só quero meus sonhos aqui comigo, mesmo que não sejam tão fáceis de realizar, mesmo que não existam, mesmo que não valham à pena. Quero minhas piadas fúteis, minhas risadas fáceis, meus conselhos acéfalos, minhas mentiras infantis. Quero as pessoas, quero o mundo. Quero tanta coisa, que nem sei mais definir de tão simples e intocáveis que parecem.

06/06/2010

rumo incerto


Creio que mudei bastante nos últimos tempos, mudanças que já posso perceber o tempo inteiro. Talvez eu esteja errada, mas acho que não cabe a ninguém julgar nem avaliar. Para mim, o que era “destino”, se tornou uma mera palavra que é utilizada quando se quer justificar ausência de alguma coisa. Não, não acredito em destino. Não acredito em sorte e azar. Talvez esteja sendo contraditória falando de coisas que nem ao menos entendo, mas pra mim cada pessoa tem o direito de escolher e responder com suas ações.
Talvez essa seja minha maior diferença entre as outras pessoas: o fato de que não espero de mais dos outros. Sempre espero mais de mim. Podem perceber que já me frustrei comigo mesma, mas a mim posso mudar. E aos outros, não quero que mudem por mim.
O mais estranho é que nunca aprendi a mim mesma controlar, e que nunca aprenderei a me conformar. Talvez por isso espere uma melhora do mundo, uma melhora das pessoas que não me é respectiva. Talvez por isso esteja tão sozinha, em meus próprios conceitos, em minhas próprias palavras.

01/06/2010

Ela


Ela possuía os olhos mais negros que já vira, e olhava-me de forma peculiar. Perguntava a mim mesmo se sua intenção era se ferir ou ferir aos outros. Sua pele era tão branca que o pequeno arranhão da unha de seu gato parecia um profundo ferimento, e eu imaginava como ficaria aquele rosto se fosse desfigurado por um acidente qualquer.
Acho que sempre tive uma mente psicopata e não havia percebido antes. Por um lado, queria poder ajudar aquela menina, mas por outro sabia que ela não teria futuro em um mundo tão duro, com aquele coração tão pequeno e personalidade tão doce e influenciável. Seria melhor para ela morrer, e se pudesse ao mesmo tempo nutrir o desejo pelo sangue, que sinto há tanto tempo... Eu sou um monstro, e disso não posso fugir.
Tentava me dispersar dos pensamentos que me levavam a vontade de matar, mas parece ser mais forte que eu. Podia até sentir o gosto, o leve fluxo sanguíneo por onde passa o sangue mais doce que já provara... Não fora por gosto, mas não conseguia parar de imaginar meus dentes perfurando seu frágil pescoço e alimentando uma fome que me cerca há tanto tempo.
Seus cabelos, igualmente negros como os olhos, exalavam um cheiro que parecia vir de campos distantes, mas me traziam uma vontade real. Tudo nela me despertava o mais forte instinto que iria mais tarde levá-la a dor, e a mim, instantaneamente ao prazer, porém mais tarde à mais profunda culpa.
Toquei em suas mãos quentes que seguravam a faca que ela desejara usar para fins errôneos. Beijei suas mãos. Sabia, no fundo, que ela me amava e que por mais sombria que parecesse, em sua mente nunca teve idéia de que fosse eu, um vampiro. Podia sentir que me amava.
Quando beijei seus lábios senti uma segurança que me apavorava, mas ao mesmo tempo me satisfazia. Dei um leve beijo em seu pescoço e ela abriu um sorriso, o mais lindo que já vira. Queria mantê-la ali para sempre, queria poder eternizar esse momento, exatamente nessa parte. Porque depois daí, só me restam pezares.