28/02/2010

Recuar

Há horas em que ficamos o tempo inteiro nos convencendo do quanto podemos ser seguros, do quanto somos superiores à quem não se esforça tanto quanto nós, do quanto podemos, do quanto somos capazes. No entanto, não me vejo em um momento nem sequer semelhante a esse.
Acredito que hajam momentos em que devemos aceitar as coisas como são. Sem botar panos quentes. Sem varrer nada pra baixo do tapete. Sem baixar, nem levantar a cabeça de mais. Simplesmente encarando as verdades de frente.
Há momentos em que devemos sair da posição de ataque às coisas que somos contra e parar. Recuar. Pensar.
Momentos dos quais aceitamos as desculpas dos outros e as pessoas como são. Momentos que enxergamos claramente no que erramos e no que acertamos. E no quanto erramos tentando acertar. E, inclusive, aceitamos nossos erros, defeitos e etc. sabe, respiramos aliviados por reconhecermos as pessoas ao nosso lado que muitas vezes não enxergamos importantes como são, mas que são essenciais em nossas vidas. Respiramos com pesar recordando fatos tristes. Mas respiramos. E, de certa forma, ficamos felizes por sabermos que a verdade não é tão ruim quanto temíamos. Seguimos em frente, mesmo carregando uma bagagem com receios causados pela experiência ou ilusões causados pela falta dela.

09/02/2010

Lugar melhor

Queria ir pra um lugar onde não houvesse pessoas. Porque pra onde corro há muitas delas. Me sufocando, me perguntando, me fazendo chorar. Queria poder voar com asas que não são minhas e depois devolvê-las. Mergulhar em mares que não conhecesse. Sentir a liberdade, o vento, ouvir a música da água batendo na pedra. Falar menos, fazer mais. Correr sem me cansar. Gritar sem arranhar a garganta.
Queria poder ficar até a hora que quisesse olhando o formato das ondas. Escrever o dia inteiro me inspirando no sol. Velejar me localizando pelas estrelas. Ir ao norte, ir ao sul. Ficar morena sem me preocupar. Esquecer as doenças, as descrenças, as brigas, as desavenças. Abraçar qualquer bêbado que ver na rua. Poder enlouquecer. Esquecer os conselhos, aceitar os meus erros. Apagar todas as teorias e reescrevê-las. Esquecer a inferioridade, o dinheiro, as lágrimas.
Queria viajar a um lugar em que não houvesse problemas, desencontros, dores de cabeça. Todos parecem fartos disso. Queria um lugar em que não houvesse ciúmes, tristeza nem amor. Onde não existisse cansaço, dor, fome, trabalho, obrigações, roupas nem moda. Onde não houvesse vícios nem diferenças. Onde ninguém precisasse se preocupar com nada. Absolutamente nada.

08/02/2010

recomeço

As pessoas tem a idéia do mundo perfeito na cabeça até que lhe provem o contrário. Eu mesma, acreditava que as coisas eram tão mais fáceis até que a verdade, pãm, foi esfregada sobre meus olhos sob pressão.
A família perfeita, os amigos perfeitos, as histórias perfeitas. Tudo. Tudo simplesmente evaporou. Percebi que as pessoas não são como eu quero. Que eu exijo de mais delas. Percebi que criticar é bom, mas receber as críticas é como ter sal esfregado sobre minha pele recém rasgada.
Então eu percebi que o mundo não girava sob meu umbigo, como, obviamente todos descobrem um dia. Às vezes até uma revolta me alcança quando vejo crianças sendo mimadas, paparicadas, lambidas por seus pais, para depois, mais tarde, sofrerem ao descobrirem que o mundo é bem mais difícil do que lhes contaram.
Logo o meu mundo cheio de perfumes, livros, e pessoas sorridentes acabou. Como se a água da minha piscina resolvesse secar logo no dia mais quente do ano. Como se as pessoas virassem as costas quando eu mais precisasse (e isso já aconteceu muitas, muitas vezes). Em vista as minhas decepções, ficar encasulada para sempre naquele mesmo mundo que acreditava que nunca seria interrompido não seria a coisa mais sensata a fazer-se, por isso tentar conhecer o que nunca sonhara que existia fora a melhor opção a ser aderida.
Não digo que é melhor do que o mundo em que vivia antes, mas pelo menos é mais real, mais tocável, mais sentível.

Necessitando

Sempre na hora em que mais preciso todo mundo some. Parecem se esconder em um lugar onde só eles sabem e têm acesso, me deixando sozinha. A vontade de falar, de gritar, de que alguém me entenda é muito grande, o que só aumenta minha sensação de solidão. Você pensa que será como nos filmes, que do nada o príncipe encantado vai aparecer e te tirar daquele mundo paralelo, mas o fato é que ninguém aparece. Simplesmente porque ninguém se importa. Todos estão ocupados de mais pra se preocuparem.
Por isso escrevo aqui. Quem sabe seja mais um incentivo para que o tal príncipe apareça, mesmo que duvide muito que isso aconteça. Os amigos se trancam em seus quartos e arrumam outros amigos com os quais se preocupar. No mínimo estive parada aqui o tempo todo, vendo a vida passar, as pessoas sonharem, os olhos brilharem, os outros se apaixonarem. E eu ali, só observando. Me sinto como uma narradora de futebol, observando, registrando, mas não vivendo.
E no fim, ninguém diz adeus.

07/02/2010

Covarde


Seus atos refletem na dor e indignação absoluta que sempre surge nos olhos daqueles que maltrata. Confiança é algo que quando depositada é jogada fora sem o mínimo pudor, pelas mesmas mãos de quem não se importam de sangue espremer e escorrer.
Os olhares inúteis que lança são de tamanha crueldade, mas porém nem se comparam com seus golpes baixos lançados como cartas em uma mesa de pocker. A vida é como um jogo no qual vale tudo para se dar bem, inclusive as mais baixas tacadas nas quais fere a o corpo e a dignidade dos quais atinge.
Desde pequeno sempre fora covarde, cometendo atos cruéis que passavam despercebidos pela rotina agitada dos pais. Seu ódio pela vida era explícito e demonstrado a cada ser no qual matava do modo mais cruel que podera imaginar. Começara a praticar tais atos na infância, recorrendo a moto do pai que passava sobre pobres e desventurados cães e ratos.
Fazia absoluta questão de ignorar a palavra princípios, aceitando qualquer método do qual pudesse utilizar para ganhar as rixas inúteis da qual fazia questão de não parar de alimentar até que sangue fosse derramado, abraçando as mais desprezíveis formas de deixar as pessoas aos seus pés. Seu jogo sujo, porém, de nada adianta para esconder tamanha inferioridade, que é explícita a qualquer um que veja seus atos inseguros tentando provar às pessoas e, creio, a si mesmo de que não o é.

04/02/2010

Estranho irremediável


Às vezes me vejo sozinha. Sabe quando os olhos escondem uma tristeza irremediável que você não sabe de onde vem? Sabe quando algo que parece sair do passado mas te abraça no futuro, sem querer te abandonar? O problema é que ninguém sabe. Isso é o que mais me faz sentir estranha. Me sinto como se fosse um tanto anormal pelos meus sentimentos de tristeza-profunda-sem-motivo-visível. Os amigos fingem entender, a família também finge. Mas o fato é que ninguém entende.
O passado parecia mais claro. Quer dizer, a não ser que tenha algo sobre o meu passado que eu não saiba. Como se quando eu fosse bebê cometesse assassinatos em série ou algo assim. Mas acho difícil, meus pais não permitiriam. Quer dizer, antes eu achava ser tudo muito simples. Quando ficava triste, algo surgia do nada e me fazia feliz. Uma roupa nova, aquele sapato da vitrine, aquele recado no Orkut. Mas agora nada mais parece consumir com algo sombrio que parece me corroer. Espero que passe logo antes que me veja completamente louca e submersa em meus pensamentos insanos.