18/11/2009

~ Terror

Seus olhos passearam ao redor. Não sabia o porquê, mas se sentia zonza. Olhou para seu corpo, todo cortado. Onde estava? Estava voltando de uma guerra? Em sua cabeça rodavam lembranças tristes. Agora, ela não tinha para onde ir nem para onde voltar. Seria a única sobrevivente de todo aquele horror? Ela podia ver o quanto sua família sofreu. Maldito acidente. Se é que podia-se chamar assim, já que ela sabia quem havia feito tudo aquilo. Todo o amor que sentia se transformara em ódio. Ódio da vida, ódio do mundo. Ela queria se vingar, mas não tinha com quem brigar.
Sabia que ela seria a próxima que eles procurariam. Tudo isso por causa de uma simples brincadeira com os espíritos. Ela e seus amigos nunca imaginaram tais conseqüências. Agora, todas as criaturas das trevas manipulavam suas vidas. Era só uma questão de tempo para aqueles monstros se materializarem a sua frente e a levarem consigo. Cada minuto anunciava a chegada de um tufão que já havia começado a se manifestar em sua vida. Somente alguém que já tenha passado por isso, podia descrever tamanho era seu desespero.
Mas talvez fosse melhor mesmo acabar com tudo isso. Ela via cada um de seus amigos se reduzindo a zumbis e corpos sem vida. Toda sua vontade de viver fora sulgada. Mas será que tinha o direito de se deixar levar? De ir embora e deixar pra trás todos? Eles precisavam dela. E sua vida já estava perdida mesmo. O que custava lutar?
Ela respirou três vezes, o mais fundo que pode, acreditando que enquanto mais oxigênio absolvesse mais tempo teria.
Sua sala estava como antes, até que pequenos barulhos vinham do sótão. Ela sabia o que iriam fazer. A mesma forma cruel com a qual morreram, iria se repetir. Era tudo uma grande maldição que pairava sob os dois mundos. E que estava prestes a estourar, como uma bolha de sabão, sem ninguém perceber. Mais uma vez.
Ela se concentrou olhando fixamente para a mesa. Iria tentar fazer o que vira na internet. Antes que comecem a rir, ela era inexperiente. Nunca havia visto um fantasma antes. Ela podia ouvir cada barulho, os passos que se repetiam mais uma vez. Todos os animais calados, como se estivessem esperando que a profecia se cumprisse. “Nunca acorde um monstro adormecido”, era o que dizia o livro que ela e seus amigos acharam. Ah, eles não perdoam, mesmo que sejam só adolescentes inconseqüentes.
Os barulhos eram mais fortes, e os espíritos se materializavam, descendo as escadas enlouquecidamente. Eles tinham uma vida a destruir. E pareciam sorridentes. Essa era a única serventia que tinham. Levar quem não podia mais ficar.
Ela encarou o primeiro que desceu as escadas. “Mostre para os espíritos que é você o dono da casa e que eles não podem habitar esse mundo”, era o que dizia em um site. Ela respirou fundo pela última vez antes de se manifestar:
“Escute aqui, vá embora!” Ela disse. Ouviu uma risada grossa e demoníaca sair de uma criança. “Nos chamou e agora quer nos devolver?” A menina disse. Agora ela sabia porque sempre diziam “As aparências enganam”, pois parecia uma menina inocente, fora que havia um demônio habitando seu corpo. Mais uma que perdera tudo o que tinha. “ Nunca chamei vocês. Posso até ter chamado espíritos, mas não os seus.” Ela tentou argumentar. “É uma pena que não saiba ler nas entrelinhas. Era a profecia do livro.” Um homem disse, com a mesma voz da menina.
Cada vez chegavam mais numerosos e mais perto dela. Não havia saída. “Vocês tem de ir embora. E tem de acabar com essa profecia idiota” A menina tremia sentada no sofá, mas tinha de fazer alguma coisa.
“A profecia só se cumpre depois de matarmos você e seus amigos. Pelo menos até que outro idiota abra o livro”. Os olhos a mulher que dissera pareciam vermelhos, se visto seu interior. Outra risada surge. “É tão patético ver vocês esperniando. Se junte logo a nós, e não se arrependerá.”
Seus olhos se encheram de água. Sabia que era o fim. Não havia como mostrar nada a aqueles fantasmas. Eles perderam todo o amor que tinham em vida. E ela se via como todas aquelas pessoas.
De repente, a sala escureceu e todos começaram a rir e gritar desesperados. Estava desesperada. Mas mau conseguia se mexer, não sabia se por medo ou porque não tinha mais forças. Se levantou, e esse foi sua última reação. Seus pés deceram a morte, seu corpo estava tomado pelo mesmo mau que a matou. E sua vida fora roubada. Seu destino traçado. E a escuridão completa ela fora entregue.

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